Oito considerações para os oito dias de Chanucá
Há 22
séculos, quando a Terra de Israel estava sob ocupação do Império sírio-grego, o
Rei Antíoco IV emitiu uma série de decretos malignos para subjugar e humilhar o
Povo Judeu, visando A forçá-lo a abandonar o Judaísmo e A abraçar o helenismo.
Antíoco proibiu o estudo da Torá e o cumprimento de muitos de seus mandamentos,
e ergueu uma estátua de uma divindade grega no Templo Sagrado de Jerusalém.
Edição 98
- Dezembro de 2017
Em
resposta aos cruéis decretos de Antíoco e seu empenho de extirpar o Judaísmo,
um grupo de judeus intrépidos, os Macabeus, enfrentou as forças sírio-gregas,
superpotência da época. Após três anos de guerra, os Macabeus tiveram uma
vitória espetacular contra o exército mais poderoso da Antiguidade. Após vencer
Antíoco e seus exércitos, libertaram Jerusalém, reinauguraram o Templo Sagrado
e reacenderam a Menorá – o candelabro de sete braços –, valendo-se
apenas de um jarro de azeite de oliva ritualmente puro encontrado em meio aos
escombros. Todos os outros jarros de azeite ritualmente puro para o serviço no
Templo, que levavam o selo do Cohen Gadol, o Sumo Sacerdote, tinham sido
propositalmente profanados pelos sírio-gregos.
Esse
único jarro continha azeite que daria para acender a Menorá durante um
único dia – e eram necessários oito para produzir mais azeite ritualmente puro.
Os Macabeus usaram esse jarro; mas o azeite, milagrosamente, ardeu durante oito
dias – o prazo necessário para que fosse produzido mais azeite ritualmente
puro.
Para
comemorar esses dois milagres – o azeite e a vitória dos Macabeus –, celebramos
a festa de Chanucá durante oito dias. O triunfo militar desses valentes
judeus foi, como dizemos em nossas orações, uma vitória dos poucos contra os
muitos, dos fracos contra os fortes. O profeta Zechariah resumiu o
acontecimento de forma poética: “‘Não pelo poder nem pela força, mas pelo Meu
Espírito’, diz o Eterno”. O milagre do azeite que se seguiu à vitória militar
foi um sinal Divino de que os judeus tinham vencido a guerra apenas porque o
Eterno, D’us Todo Poderoso, tinha operado milagres em seu favor. O suprimento
de azeite para um dia milagrosamente ardeu durante oito não apenas porque esse
era o mínimo tempo necessário para produzir azeite ritualmente puro, mas
porque, segundo a Torá, o número oito representa o sobrenatural, o milagroso.
Esse fenômeno sobrenatural assinalava que a Divina Providência possibilitara o
triunfo dos Macabeus, ainda que eles não tivessem nem a força nem o poder nem
os armamentos nem os homens para vencer a máquina de guerra sírio-grega. Essa
vitória militar significou a sobrevivência do Judaísmo e, por conseguinte, do
Povo Judeu. A festa de Chanucá, portanto, não é apenas a celebração de
milagres. Comemora, também, a eternidade da Torá e do Povo de Israel.
Este ano,
Chanucá se inicia em uma terça-feira à noite, 12 de dezembro de 2017. Na
primeira noite da festa, acendemos um jarro de azeite ou uma vela; na segunda
noite, duas; na terceira, três, e assim por diante. Na oitava e última noite,
acendemos todos os oito jarros de azeite ou velas da Chanuquiá – o
candelabro de oito braços reminiscente da Menorá de sete braços do
Templo Sagrado de Jerusalém.
Chanucá é uma das festas judaicas mais
apreciadas. Suas luzes são queridas não apenas para o Povo Judeu, mas para
muitas pessoas de outras religiões. Uma Chanuquiá é acesa na Casa Branca
e no Kremlin e líderes políticos do mundo todo, inclusive do Brasil, a acendem.
Chanucá é reconhecida de forma ampla porque seus temas e lições são
atemporais e universais. São relevantes não apenas para o Povo Judeu, mas para
todas as pessoas de bem no mundo. Suas luzes nos ensinam que cedo ou tarde, a
luz triunfa sobre a escuridão, a bondade sobre a maldade, a justiça sobre a
iniquidade e a santidade sobre o profano.
Chanucá e suas luzes transmitem inúmeras
mensagens e lições. Preparamos, pois, oito considerações sobre Chanucá –
uma para cada um dos oito dias da Festa das Luzes.
1º dia -
Chanucá na Torá
Chanucá e seus mandamentos não são
mencionados explicitamente na Torá, pois os eventos comemorados na festa
ocorreram mais de 1.000 anos após D’us ter dado a Torá ao Povo Judeu. Moshé
terminou de transcrever o Pentateuco – os Cinco Livros da Torá – no ano de 2488
após a Criação (ano de 1273 AEC no calendário gregoriano), e os milagres de Chanucá
ocorreram nos anos de 3621-3622 (ano de 140-139 AEC no calendário gregoriano).
No entanto, D’us, que é Onisciente e acima do tempo e de todas as demais
limitações, incluiu alusões à Chanucá na Torá. Isso não surpreende, pois
a Torá é o projeto de toda a Criação: todo evento de maior ou menor porte – já
ocorrido ou que um dia ocorrerá – tem fundamento ou alusão no Pentateuco.
Seguem-se
algumas das alusões à Chanucá encontradas nos Cinco Livros da Torá:
• A 25a
palavra na Torá é Or, “luz”. Começamos a acender as luzes de Chanucá
na noite do 25o dia do mês judaico de Kislev.
• Durante
a jornada de 40 anos dos judeus pelo deserto a caminho da Terra Prometida, eles
acamparam em diversos lugares. O 25º lugar era chamado Chashmoná. Isso é
uma alusão à família de sacerdotes, os Chashmonayim, que lideraram os
Macabeus na luta contra os sírio-gregos.
• O 23o
capítulo de Levítico, terceiro livro da Torá, descreve os vários feriados
judaicos. Logo a seguir, no início do capítulo 24, vemos o mandamento de
acender a Menorá. Isso é uma alusão à Chanucá – nossa festividade
ligada ao acendimento da Chanuquiá - a Menorá de oito braços.
• O
capítulo 7 de Números, quarto livro da Torá, descreve as oferendas trazidas
pelos líderes das tribos após a inauguração do Mishkan – o Tabernáculo.
O capítulo 8 se inicia com as seguintes palavras: “O Eterno falou a Moshé,
dizendo: ‘Fala a Aaron e diz-lhe: Quando acenderes as luzes, faz de modo que as
sete luzes iluminem a luz central da Menorá’ ”. Vemos, aqui, uma conexão
entre a inauguração do Tabernáculo – que foi o predecessor do Templo Sagrado de
Jerusalém – e o acendimento da Menorá. Na história de Chanucá,
depois que os Macabeus venceram a guerra, os judeus restauraram e reinauguraram
o Templo Sagrado, novamente acendendo a Menorá.
Além
disso, o Midrash nos ensina que após ser inaugurado o Tabernáculo, D’us
ordenou que cada líder de tribo trouxesse uma oferenda. Uma tribo foi excluída
– a de Levi. D’us ordenou a Aaron, o primeiro Sumo Sacerdote e chefe da tribo
de Levi, que não trouxesse oferenda, mas que acendesse a Menorá. D’us
instruiu Moshé a dizer a seu irmão Aaron que não se aborrecesse com o fato de
sua tribo não trazer sacrifícios, já que estes durariam apenas enquanto
existisse o Templo Sagrado – ao passo que as luzes da Menorá
continuariam a ser acesas por todo o sempre. A mensagem de D’us a Aaron aludia
às luzes da Chanuquiá, que são uma recordação das luzes da Menorá
do Templo. E de fato, já transcorreram quase 2.000 anos desde que foram
interrompidos os serviços de sacrifício, mas as luzes da Chanuquiá,
remanescentes diretas da Menorá, nunca deixaram de brilhar. Apesar da
ausência do Templo Sagrado de Jerusalém, elas continuam a iluminar a escuridão
que há no mundo.
2º dia –
As 36 velas de Chanucá
Este
ensinamento provém dos escritos de um gigante espiritual, Cabalista, o Rabi
Levi-Yitzchak Schneerson, pai do Lubavitcher Rebe.
Durante a
festa de Chanucá, acendemos um total de 36 luzes: 1 +2 + 3 + 4 + 5 + 6 +
7 + 8. Esse número não é acidental – como nada na vida o é, especialmente em
assuntos diretamente relacionados à Torá. Rabi Levi-Yitzhak Schneerson revela
um profundo significado desse número, associado a um dos principais temas de Chanucá.
Está
escrito na passagem Al Hanissim, recitada na oração da Amidá e no
Bircat Hamazon durante os oito dias de Chanucá, que os
sírio-gregos se empenharam em “Fazer [Israel] esquecer a Sua Torá”.
Em sua
tentativa de fazer com que isso acontecesse, os sírio-gregos visaram à Torá
Oral, que explica e elucida a Torá Escrita. Os invasores perceberam que a
própria Torá Escrita, tão amplamente documentada em milhares de rolos, jamais
seria esquecida. Sua estratégia foi, então, erradicar todos os vestígios da
Torá Oral, que era preservada e transmitida oralmente de uma geração à outra.
Sem a Torá Oral, é impossível entender corretamente a Torá Escrita e cumprir
seus mandamentos. Os sírio-gregos perceberam que se conseguissem fazer o Povo Judeu
esquecer a Torá Oral, o fim do Judaísmo seguir-se-ia.
Séculos
após o milagre de Chanucá, a Torá Oral foi finalmente redigida. Seu
núcleo, conhecido como a Mishná, foi editado pelo Rabi Yehudá HaNassi.
Nas gerações seguintes, mais conteúdo da Torá Oral foi escrito, formando-se os
dois principais corpos da Lei Judaica: um em Israel, o Talmud Yerushalmi
(Talmud de Jerusalém), e o outro na Babilônia – o Talmud Bavli (Talmud
da Babilônia). Este último, em geral mais estudado do que o de Jerusalém,
contém comentários sobre exatamente 36 tratados da Mishná, que é o
número total de velas acesas durante Chanucá. As 36 velas de Chanucá
celebram a sobrevivência da Lei Oral, que foi transcrita e preservada nos 36
tratados do Talmud Bavli.
Há outra
conexão entre Chanucá e a Torá Oral. O editor do Talmud Bavli foi
Rav Ashi, cujo nome é foneticamente ligado a Esh, palavra em hebraico
para “fogo” – o veículo para a celebração de Chanucá.
Pode-se
traçar uma terceira conexão entre as 36 velas de Chanucá e a Torá Oral.
Os principais guardiães da Torá Oral eram os 71 membros do Sanhedrin, a
Suprema Corte de Israel. Para que qualquer decisão do Sanhedrin fosse
obrigatória, era necessário haver uma maioria de, no mínimo, 36 juízes.
Quando
acendemos a Chanuquiá, devemos lembrar que estamos fazendo mais do que
celebrar uma vitória militar e o milagre do azeite. Estamos celebrando a
sobrevivência da Torá Oral, sem a qual a Torá Escrita não pode ser entendida.
Sem a Torá Oral, o Judaísmo autêntico não pode sobreviver. As 36 luzes de Chanucá
simbolizam, assim, o triunfo e a eternidade da Torá e, por conseguinte, do Povo
de Israel.
3º dia –
O Povo Judeu é uma Vela Eterna
Nossos
Sábios lançam uma pergunta intrigante acerca do mandamento de acender as luzes
de Chanucá. Durante as oito noites da festividade, acendemos azeite de
oliva ou velas e recitamos a benção “She-assá Nissim La-Avotenu (“Que
fez milagres para nossos antepassados”). Mas, qual o milagre que estamos
celebrando na primeira noite de Chanucá? O milagre do azeite é o fato de
uma quantidade suficiente para apenas um dia ter durado oito. Algo de
miraculoso ocorreu do segundo ao oitavo dia, mas era natural que o suprimento
encontrado ardesse durante um dia. O fato de o jarro de azeite ritualmente puro
ter mantido a Menorá acessa durante o primeiro dos oito dias não constituiu
milagre algum – era o esperado. O milagre foi continuar a queimar nos demais
sete dias. Por que, então, recitamos a bênção “Que fez milagres para nossos
antepassados” na primeira noite de Chanucá?
Uma das respostas
é que o milagre celebrado no primeiro dia foi o fato de os Macabeus terem
encontrado um jarro de azeite que não havia sido profanado pelos sírio-gregos.
Em outras palavras, na primeira noite de Chanucá, celebramos o milagre
da “sobrevivência” desse jarro de azeite. De fato, não havia razão para se
supor que algo tivesse sobrevivido à profanação sistemática feita pelos
sírio-gregos e seus seguidores no Templo Sagrado. No entanto, quando os
Macabeus reconquistaram o Templo, insistiram em procurar azeite ritualmente
puro, ainda que as chances de encontrar qualquer vestígio fossem mínimas. E por
que procuraram, assim mesmo? Porque tinham fé de que mesmo em meio à maior
tragédia, algo sobreviveria. E estavam certos. Um jarro de azeite ritualmente
puro realmente sobreviveu. Por alguma razão, inexplicável, os invasores não o
encontraram.
O milagre
celebrado na primeira noite de Chanucá é o da fé pura, total e simples –
a fé em que, apesar de toda a destruição perpetrada, algo precioso, sagrado e
puro restaria para que dali os judeus pudessem se erguer e começar de novo.
Portanto, a primeira noite de Chanucá celebra o próprio fato de um pouco
de azeite ritualmente puro ter sobrevivido à destruição. Não era muito – apenas
a quantidade para um dia – mas aquilo milagrosamente manteve acesa a Menorá
durante oito dias – tempo suficiente para que mais azeite ritualmente puro
fosse produzido.
Esse
milagre simboliza um dos temas principais na História Judaica. Várias foram as
ocasiões na longa e árdua caminhada de nosso povo em que tudo parecia perdido.
Uma outra nação teria desistido, em meio ao desespero. O Povo de Israel
vivenciou a destruição de dois Templos Sagrados e foi expulso da Terra de
Israel. Na Diáspora, foi submetido a perseguições e expulsões constantes, aos
massacres dos Cruzados, às fogueiras da Inquisição espanhola, aos pogroms e,
acima de tudo, ao Holocausto. Mas, de um modo ou outro, os judeus não
desistiram. Não se prostraram e choraram. Juntaram o pouco que restara,
reconstruíram nosso povo e brilharam de forma ainda mais vibrante do que antes.
A luz do
Judaísmo sempre se recusou a ser apagada. Pelo contrário, sempre que a
escuridão ameaça extingui-la, consegue brilhar com intensidade ainda maior. O
resultado foi que as maiores catástrofes na História Judaica foram seguidas
pelos maiores triunfos do Povo Judeu. O estudo e a disseminação da Cabalá
floresceram após a Inquisição na Espanha. O retorno dos judeus à Terra de Israel
e a Jerusalém, bem como a disseminação do Judaísmo pelos quatro cantos do
mundo, ocorreram pouco após o Holocausto.
As luzes
de Chanucá ensinam ao Povo Judeu e a toda a humanidade que o poder do
espírito humano de vencer qualquer dificuldade não tem limites. A festa de Chanucá
nos faz recordar, repetidamente, que temos que nos recusar a aceitar a derrota.
O jarro
de azeite ritualmente puro que sobreviveu à destruição representa o Povo Judeu.
Somos uma Ner Tamid – uma Vela Eterna – cuja luz perene não há potência
na Terra que possa extinguir.
4º dia - Um choque de civilizações:
Atenas versus Jerusalém
É comum
ouvirmos, atualmente, a expressão “choque de civilizações”. A história de Chanucá
foi um dos primeiros grandes choques de civilizações, travado entre os gregos
da Antiguidade e os judeus – entre Atenas e Jerusalém.
Não se
pode negar que os gregos produziram uma das civilizações mais extraordinárias
na história humana. Seu legado dura até hoje. O mundo, particularmente a
Civilização Ocidental, deve muito à Grécia Antiga. Eles geraram filósofos como
Sócrates, Platão e Aristóteles; historiadores como Heródoto e Tucídides, e
dramaturgos como Sófocles e Ésquilo. Os antigos gregos foram mestres na Arte e
na Arquitetura, entre inúmeros outros campos do conhecimento humano. Foram
grandes pensadores, linguistas, artistas, intelectuais, desportistas, líderes
políticos e guerreiros. Ainda assim, essa superpotência foi vencida por um
grupo pequeno de combatentes judeus, conhecidos como os Macabeus e, a partir de
então, entrou em declínio. A Grécia Antiga desapareceu para nunca ressurgir.
Hoje, vive apenas nos livros de História: os descendentes dos gregos da
Antiguidade não mais vivem em Atenas nem em outro lugar qualquer. Por sua vez,
o minúsculo Povo Judeu, destituído de seu Lar e perseguido, sobreviveu a 2.000
anos de exílio, perseguições constantes e mesmo genocídio, e hoje vive soberano
em sua Pátria ancestral e eterna. Seus filhos brincam, hoje, nas ruas de
Jerusalém e falam a mesma língua que os Profetas usavam há 3.000 anos.
Como
explicar que um dos maiores impérios de todos os tempos tenha perecido e um
povo minúsculo tenha sobrevivido e florescido? As respostas são inúmeras. Uma
delas, óbvia, é a Divina Providência. D’us assegurando a eternidade do Povo de
Israel é um tema constante em nossas orações e celebrado em nossas datas
sagradas, inclusive em Chanucá. Mas há outra resposta que também explica
o choque de civilizações entre os antigos gregos e os judeus.
Os gregos
antigos, que acreditavam em várias divindades, não acreditavam em um D’us
único, que ama e Se preocupa com tudo e todos. A Grécia Antiga deu ao mundo o
conceito de tragédia. Para seu povo, os seres humanos nasciam para se empenhar
e, às vezes, atingiam a grandeza. Mas para eles a vida não tinha um propósito
supremo. De acordo com sua cultura, o Universo desconhecia e não se importava
com o destino do homem.
Para o
Judaísmo, esse conceito é um anátema. Os judeus ensinaram ao mundo que estamos
aqui na Terra porque D’us nos criou com amor. O Judaísmo ensina que D’us está
preocupado não apenas com o mundo em sua totalidade, mas também com o destino
de cada uma de suas criaturas. O Judaísmo deu à humanidade a ideia de que a
vida tem significado e propósito, pois o mundo e todos os que o habitam foram criados
e são supervisionados por um Ser Infinito que está intimamente envolvido com
absolutamente todos os detalhes de Sua criação.
As
civilizações cujos conceitos fundamentais são a tragédia e a futilidade da
existência inevitavelmente se desintegram. Povos destituídos de qualquer senso
de significado e propósito superiores não possuem as convicções morais das
quais depende a continuidade. Aqueles que creem que a vida é fútil e destituída
de propósito sacrificam a felicidade em troca do prazer. Vendem o futuro pelo
presente. Negligenciam sua alma, que é eterna, e apenas alimentam o corpo, que
é temporário. Tais civilizações hedonistas, cedo ou tarde, perdem a paixão, a
energia, a sabedoria e a direção que lhes trouxe grandeza. A decadência
espiritual inevitavelmente é seguida pelo fim de uma civilização, mesmo de uma
tão grandiosa como o foi a Grécia Antiga. Em nítido contraste, o Judaísmo e sua
cultura de esperança, propósito e amor, sobreviveram. As luzes de Chanucá
são um símbolo dessa sobrevivência.
A Acrópoles
de Atenas sobreviveu, mas os antigos gregos, não. O Templo Sagrado de Jerusalém
não sobreviveu, mas o Povo Judeu, sim. Os judeus ainda estão nesta Terra por
causa da Divina Providência, mas também porque nosso povo sempre acreditou no
poder da luz e de tudo o que representa. Chanucá nos ensina que uma vela
de esperança pode parecer pouco, mas dela pode depender a própria sobrevivência
de toda uma civilização.
5º dia -
A Luz da Guerra e a Luz da Paz
Maimônides,
o maior filósofo judeu, que produziu uma obra que é um dos pilares da Lei
Judaica, escreveu: “O mandamento das luzes de Chanucá é muito precioso.
Quem não tem meios de comprar as suas luzes deve vender algo de seus bens ou,
se necessário, tomar um empréstimo, para poder cumprir essa mitzvá”.
Uma
pergunta: E se em uma tarde de 6a feira, durante a festividade de Chanucá,
a pessoa se vê com apenas uma vela? Deve usá-la como vela de Shabat ou de Chanucá?
Não dá para usá-la para os dois propósitos. A lógica sugere que deve acendê-la
como vela de Chanucá. Afinal, não há lei ordenando que se venda algo ou
se tome empréstimo para comprar velas para Shabat. Mas a Lei Judaica dita que
em tal situação, deve-se usar a vela para o Shabat e não para Chanucá.
Por que seria?
Maimônides
explica: “A vela de Shabat tem prioridade porque simboliza Shalom Bait –
a paz no lar. E a paz é de suma importância porque toda a Torá nos foi dada
para trazer paz ao mundo”.
Chanucá comemora uma das maiores
vitórias militares na História Judaica. Até hoje, os Macabeus simbolizam a
bravura e a coragem do Povo Judeu. Não fossem os Macabeus, o Judaísmo e, por
conseguinte, o Povo Judeu, teriam desaparecido da face da Terra. No entanto, a
Lei Judaica determina que se tivermos apenas uma vela às vésperas do Shabat
durante a festa de Chanucá, devemos usá-la como vela de Shabat – não de Chanucá.
A precedência para o Shabat se deve ao fato de que nem mesmo a maior vitória
militar é mais importante do que a paz no lar.
Os
antigos gregos foram grandes guerreiros, conquistadores e governantes, mas sua
civilização foi extinta. Como o Povo Judeu pôde sobreviver a eles? Entre
outras, pelo fato de os judeus darem mais valor a seu lar do que ao campo de
batalha. A paz no lar importava muito mais a nossos ancestrais do que as
vitórias militares.
Ao celebrarmos
Chanucá e comemorarmos os triunfos militares e atos de bravura e
heroísmo do Povo Judeu – sejam os dos Macabeus ou dos valorosos soldados do
Estado de Israel –, não podemos esquecer que a vitória suprema é vencida não no
campo de batalha, mas em nossos lares e em nossas comunidades. O Povo Judeu é
singular porque valoriza a vida, o casamento, os filhos e o lar – mais do que
as grandes vitórias militares.
Os judeus
comprovaram ser capazes de produzir os melhores guerreiros do mundo. Os
Macabeus foram soldados determinados e destemidos que, com a ajuda de D’us,
venceram uma superpotência militar. Hoje, o Estado de Israel tem as forças
armadas mais bem treinadas no mundo. País algum, nem mesmo os Estados Unidos ou
a Rússia, tem pilotos, forças especiais, tecnologia militar e serviços de
inteligência melhores do que os de Israel. O Estado Judeu não tem outra opção –
tem que ser uma superpotência militar, pois se o Holocausto nos deixou alguma
lição, esta foi que nós, judeus, temos que nos defender sozinhos. Nosso desejo,
no entanto, é formar eruditos e cientistas, não soldados. Contrariamente aos
antigos gregos, preferimos viver para nossos filhos e netos do que ter uma
morte heroica no campo de batalha.
Há vezes
em que a luz da guerra é necessária, como na história de Chanucá e na do
Estado de Israel. Mas, quando há opção, a luz da paz é preferível.
6º dia - O terceiro milagre de
Chanucá
A festa
de Chanucá celebra dois milagres: a vitória militar dos Macabeus e o
suprimento de azeite para um único dia ter durado oito. Mas houve um terceiro
milagre. Poucos o conhecem. Ocorreu séculos mais tarde.
Após a
destruição do segundo Templo Sagrado de Jerusalém, muitos rabinos julgavam que
a festa de Chanucá deveria ser abolida. Argumentavam que como Chanucá
celebra a reinauguração do segundo Templo Sagrado, deixara de existir uma razão
para seguir celebrando-a – já que o Templo havia sido destruído por Roma.
Conta-nos
o Talmud que em uma cidade, Lod, Chanucá chegou mesmo a ser abolida. No
entanto, o Povo Judeu decidiu que, apesar da destruição do segundo Templo,
continuariam a celebrar a festividade. Esse foi o terceiro milagre de Chanucá:
a decisão de continuar a celebração apesar da ausência do Beit HaMikdash,
o Templo Sagrado.
E por que
tomaram essa decisão? Porque, apesar de ter caído a “Morada de nossa Vida”, a
esperança judaica continuava de pé. Podíamos ter perdido o Beit HaMikdash
– a Morada Divina na Terra –, mas os romanos não nos tinham tirado a lembrança,
a esperança e a luz de Chanucá e tudo o que simboliza. Tinha sido
destruída uma gloriosa estrutura física, mas seu espírito continuou a viver
dentro de cada um dos judeus e dentro de cada uma de nossas sinagogas – que são
um Mikdash Me’at – um pequeno Templo Sagrado. Continuamos a celebrar Chanucá
2.000 anos depois do segundo Templo ter sido destruído, porque sabemos que um
dia o terceiro Templo Sagrado será construído. Sempre acreditamos que os
milagres dos dias dos Macabeus poderiam voltar a acontecer – e de que
acontecerão, de fato. As palavras Od Lo Avdá Tikvatenu, “nossa esperança
não está perdida”, reverberaram, sem parar, na alma coletiva dos Filhos de
Israel nos últimos 2.000 anos: tornaram-se parte do Hino Nacional do Estado de
Israel, o Hatikvá (A Esperança), que inspirou o Povo Judeu a voltar ao seu
Lar e à sua capital eterna, Jerusalém, onde um dia brilhou majestoso o Templo
Sagrado.
Ao
acendermos as luzes de Chanucá, devemos lembrar-nos que, apesar da queda
do Templo Sagrado e de toda a destruição que nosso povo vivenciou, o Povo Judeu
manteve viva a sua esperança, e essa esperança nos manteve vivos como povo.
Nunca se deve duvidar do poder da esperança. Ela é mais potente e duradoura que
grandes impérios e exércitos. A luz da esperança preservou e sustentou nosso
povo mesmo em seus momentos mais difíceis. As luzes de Chanucá despertam
o coração e a alma de tantas pessoas porque nos ensinam a nunca perder a
esperança.
7º dia - Constante crescimento
espiritual
Na
primeira noite de Chanucá, acendemos um jarro de azeite ou uma vela. Na
segunda, acendemos duas, e na terceira, três. Somente na oitava e última noite
de Chanucá acendemos todas as luzes da Chanuquiá. Essa progressão
nos ensina que o que importa na vida não é nosso ponto de partida, mas nosso
progresso. O que D’us espera de cada um de nós é que cada dia consigamos dar um
passo à frente: que possamos produzir mais luz hoje do que ontem e que amanhã
possamos brilhar mais intensamente do que hoje.
Ninguém
se torna um sábio ou um gigante espiritual da noite para o dia. Isso exige
muitos anos de estudo, prática e auto-refinamento. O processo é longo e árduo.
Tornar-se mestre em Torá e – ainda mais difícil – tornar-se mestre de si mesmo,
requer um empenho e uma bravura enormes. Mas, se avançarmos constantemente – se
brilharmos, dia após dia, um pouco mais intensamente –, poderemos atingir
alturas inconcebíveis. E para isso basta coragem e determinação de dar o
primeiro passo e continuar crescendo. Basta acender uma vela hoje e uma vela
adicional amanhã.
Temos que
nos empenhar para constantemente subir a Escada de nosso patriarca Jacob, que
toca a Terra e alcança os Céus. Não importa quantos atos de bondade um ser
humano praticou; não importa quanto da Sabedoria Divina aprendeu e nem quantos
atos sagrados e generosos praticou. Ele nunca deve estar satisfeito com suas
realizações. Ainda que hoje tenha praticado muitos atos de bondade, amanhã terá
que praticar ainda muitos atos mais.
8º dia - Chanucá e a Guerra Mundial
Final
Muitas
pessoas estão esperando por uma guerra mundial final. Estão convencidos de que
o fim do mundo está próximo e temem pelo que o futuro possa trazer. De fato, os
Profetas falaram de uma guerra apocalíptica que precederá a vinda do Mashiach.
Mas essa guerra final não será travada nos campos de batalha, nem no mar e
tampouco nos céus. Não se usarão armamentos avançados ou bombas nucleares. Não
será uma guerra entre líderes nem entre nações.
A guerra
final que precederá a Era Messiânica será travada no coração de cada pessoa,
com os exércitos de seus atos neste mundo. A Guerra Final é a reencenação da
batalha espiritual de Chanucá – a batalha da luz contra a escuridão. E
nós todos seremos forçados a participar dessa guerra final. Na verdade, quer o
saibamos ou não, já a estamos travando. O resultado dessa guerra determinará o
destino do mundo, e isso está nas mãos de cada um de nós. Mas não devemos temer
seu resultado: D’us nos assegurou por meio de seus Profetas que nós havemos de
prevalecer. Venceremos a guerra mundial final. A paz advirá, a escuridão será
banida para sempre e a Luz Divina, simbolizada pelas luzes de Chanucá,
preencherá o mundo inteiro. Que D’us nos ajude a vencer essa guerra o mais
breve possível. Amén, Ken Yehi Ratson.
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