domingo, 24 de dezembro de 2017

10 de Tevet - O Cerco de Jerusalém


10 de Tevet
O Cerco de Jerusalém

No 10º dia do mês judaico de Tevet, no ano 3336 da Criação (425 AEC), os exércitos do imperador da Babilônia Nevuchadnezzar fizeram um cerco a Jerusalém. Trinta meses depois - em 9 de Tamuz de 3338 - as muralhas da cidade foram arrasadas e em 9 de Av daquele ano o Templo Sagrado foi destruído.
O povo judeu foi exilado na Babilônia durante 70 anos. O dia 10 de Tevet é observado como um dia de jejum, luto e arrependimento. Abstemo-nos de comida e bebida, do amanhecer até o anoitecer, e acrescentamos selichot e outros suplementos especiais às nossas preces. Mais recentemente, 10 de Tevet foi escolhido para servir também como "dia geral de kadish" para as vítimas do Holocausto, muitas das quais se desconhece o dia de martírio.
Um antigo costume judaico, que foi revivido pelo Rebe, Rabi Menachem Mendel Schneerson, de abençoada memória, é pronunciar palavras de inspiração e incentivar o arrependimento nos dias de jejum. Apresentamos aqui nossa modesta contribuição ao nosso dever como judeus, de refletir sobre o significado dos trágicos eventos da nossa história, e assim ficarmos motivados, encorajados e sim - até mesmo inspirados:
Maimonides relata que todos os dias de jejum se transformarão em festas e dias de celebração, implicando que sua mensagem interior seja positiva.  De fato, assim como o Rabino Shneur Zalman menciona em seu Igueret HaTeshuvá, um dia de jejum é um ‘dia propício’.  Dentre as dimensões positivas de dias de jejum está que são dias de teshuvá, arrependimento e retorno.
“Teshuvá tem o poder de terminar o exílio e trazer a Redenção.”
(Lubavitcher Rebe, 10 Tevet, 5752-1991)

Halachot sobre a Recitação da Amidá em Viagens


Halachot sobre a Recitação da Amidá em Viagens

Halachá Diária, por Kolel Rio
Uma pessoa doente, que não pode ficar de pé, pode rezar sentada e que, mesmo quando se reza sentado, deve-se tomar cuidado para manter as pernas unidas, e se curvar nos trechos da Amidá (Grande Oração) em que se faz o mesmo, quando se está de pé. Esta é a regra para quem está viajando de carro e está prestes a perder a hora da Amidá. O ideal é pedir ao motorista que pare o carro para que se possa fazer a Amidá de pé, num local seguro, com calma, à beira da estrada.
Se a pessoa estiver muito atrasada, e parar o carro a fará ficar preocupada durante a sua oração, causando desconcentração ou a recitação da Amidá com pressa, deve rezar sentada como explicamos, para que tenha a devida Kavaná (intenção ou concentração). Caso a pessoa seja o próprio motorista é terminantemente proibido que ela reze enquanto dirige, já que este procedimento é arriscado.
Ainda sobre a recitação da Amidá (Grande Oração) em uma viagem, quando a pessoa estiver em um ônibus, trem ou avião, se houver espaço para ficar de pé de forma confortável e tranquila, para si e para os demais ao seu redor, podendo ter a devida Kavaná (intenção ou concentração), deve-se fazê-la de pé. Se não houver condições, e a Amidá for recitada com preocupação ou incômodo – para si ou para os demais –, deve-se rezar sentado, tomando cuidado para manter as pernas unidas e se curvar, conforme explicamos anteriormente. No avião, em geral, há pouco espaço e deve-se ter o máximo de cuidado para não incomodar os passageiros e/ou atrapalhar o trabalho dos tripulantes, portanto, em caso de dúvida, deve-se rezar toda a Tefilá (e, portanto, também a Amidá) sentado.
Os três passos antes da Amidá
Os três passos antes da Amidá (Grande Oração). Os passos para trás e para frente devem se encerrar antes do fechamento da bênção "Gaal Israel". Ou seja, a pessoa deve recitar as palavras "Gaal Israel" já na posição onde fará a Amidá, com os pés juntos, pronto para iniciá-la. Devemos lembrar que é terminantemente proibido demorar ou interromper a sequência - que deve ser contínua e imediata - entre a bênção "Gaal Israel" e o início da Amidá. Por isso, deve-se cuidar para que os três passos para frente tenham se encerrado um ou dois segundos antes de se recitar as palavras "Gaal Israel", ao fim da bênção. Em outras palavras, a pessoa deve iniciar os 3 passos para frente quando está recitando o trecho "Veneemar Goaleinu Hashem Tzevakot (...)"
Rezar durante uma viagem
Em uma viagem, quando a pessoa estiver em um ônibus, trem ou avião, se não houver condições, a pessoa pode recitar da Amidá (Grande Oração) sentada, para que tenha a devida Kavaná (intenção ou concentração). Se, em sua viagem, a pessoa perceber que haverá tempo para fazer a Amidá no destino, no horário correto pela Halachá e a tempo de rezar com calma, deve esperar para recitá-la ao chegar lá.
Caso constate que não haverá tempo, a pessoa deve rezar durante a viagem, nas condições que expusemos anteriormente, isto é, de pé: se não atrapalhar sua Kavaná ou incomodar as pessoas; sentada: se esses limitadores existirem.
Passos para trás ao fim da Amidá
No Talmud, consta: melhor que não tivesse rezado aquele que rezou a Amidá e não a encerrou com os três passos para trás. Esse rigor justifica-se, de acordo com os Sábios, pelo fato desse procedimento – não se “despedir” adequadamente – indicar que a pessoa não tem a correta noção de que estava diante do Rei do universo, fazendo com que sua oração tenha adquirido um aspecto de desprezo ou desrespeito. Por isso, deve-se dar os três passos para trás. Deve-se mover a perna esquerda – a perna mais fraca – primeiro, representando a dificuldade desta separação. Em seguida, a direita e novamente a esquerda, até que a pessoa fique de novo com os dois pés juntos. Cada passo deve ter o cumprimento de aproximadamente um pé inteiro, pois passos muito menores não são considerados passos. É preciso que sejam exatamente três, nem mais nem menos.
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70 ANOS DA PARTILHA

70 ANOS DA PARTILHA

70 ANOS DA PARTILHA


70 ANOS DA PARTILHA
por Zevi Ghivelder
O dia 29 de novembro de 1947 ascendeu à condição de data histórica por registrar a decisão da Assembleia Geral das Nações Unidas que adotou a resolução de dividir a antiga Palestina em dois estados, um árabe, outro judeu. Agora está sendo celebrado o 70º aniversário desta partilha que se desdobrou em um sucesso e um fracasso.
Edição 98 - Dezembro de 2017

O sucesso corresponde à efetiva criação de Israel, no ano seguinte, e que em sete décadas alcançou êxitos surpreendentes em todos os campos da atividade humana na moldura de um estado democrático de direito. O fracasso diz respeito à recusa dos árabes em aceitar os termos da partilha, tendo deixado de estabelecer sua própria nação no território que lhes competiria, preferindo submeter-se à soberania do rei Abdullah, da então Transjordânia, atual Jordânia.
Entretanto, é importante assinalar que sobre o atual 70o aniversário avulta outro, de 80 anos, igualmente relevante, que foi a semente do conceito da implantação de dois estados na antiga Palestina. Trata-se da Comissão Peel, constituída em maio de 1936 pelos mandatários britânicos, com a finalidade de resolver os dramáticos problemas então existentes naquela região. Sete anos antes, uma rebelião árabe havia massacrado judeus em Jerusalém, Hebron, Safed e outras cidades, resultando em mais de uma centena de mortos e mais de 300 feridos. No mesmo ano de 1936, os árabes promoveram uma greve geral no território sob mandato, sabotando ferrovias, linhas telefônicas e bloqueando estradas, além de incendiarem propriedades e plantações do ishuv (judeus residentes na Palestina) e atacarem os ingleses com operações de guerrilhas.
A chefia da comissão foi confiada ao lorde William Peel, 69 anos, destacado político e empresário inglês. A chamada Comissão Peel chegou à Palestina em novembro, tendo os árabes desde logo anunciado que boicotariam todas as suas ações. Os líderes do ishuv perceberam que seu futuro estava ameaçado e preparam para apresentar à Comissão Peel um memorando com 228 páginas e cinco apêndices, no qual esmiuçaram a história da Palestina e seu vínculo ancestral com o povo judeu, as implicações legais e territoriais que levaram à atribuição do mandato ao Império Britânico e os progressos materiais e agrícolas alcançados pelos colonos judeus nos últimos vinte anos, ou seja, desde a Declaração Balfour. (Trata-se de um documento emitido por Lord Balfour, membro do gabinete inglês, em novembro de 1917, afirmando que o governo de Sua Majestade era favorável à criação de um lar nacional judaico na Palestina). A argumentação do ishuv enfatizava que há três anos os nazistas estavam no poder na Alemanha e, portanto, eram graves as ameaças que pairavam sobre os judeus.
Entre novembro de 1936 e fevereiro de 1937, Chaim Weizmann, David Ben Gurion e Zeev Jabotinsky, líderes proeminentes do movimento sionista, prestaram depoimentos perante a Comissão Peel. Uma leitura atual de suas palavras demonstra que o sionismo jamais foi apresentado e defendido com tanto fervor e precisão desde a atuação de Theodor Herzl no Primeiro Congresso Mundial Sionista, quarenta anos antes. De todos, Ben Gurion foi o mais assertivo: “Nossos direitos na Palestina não decorrem do mandato, nem da Declaração Balfour. Nossos direitos estão no mandato da Bíblia que nós mesmos escrevemos em nosso idioma, aqui nesta terra”. O depoimento de Jabotinsky foi em fevereiro de 1937, na Câmara dos Lordes, com o recinto em Londres lotado e mais milhares de pessoas fazendo vigília em torno do prédio. Weizmann também falou em Londres, a portas fechadas, advertindo aos ingleses que eles se arrependeriam das concessões que estavam sendo estendidas ao Mufti de Jerusalém, um declarado aliado do regime nazista.
Por causa das repercussões internacionais alcançadas por esses depoimentos, os árabes decidiram suspender o boicote à Comissão Peel e o próprio Mufti testemunhou: “Tanto o mandato quanto a Declaração Balfour são inválidos porque resultaram de pressões exercidas pelos judeus que querem reconstruir o Templo de Salomão em nossas sagradas propriedades. A Palestina está plenamente ocupada e não tem como acolher dois povos”. Nos meses seguintes, à medida em que eram colhidos novos depoimentos, os membros da Comissão Peel começaram a concluir que a solução mais plausível seria a partilha da Palestina em dois estados. Chamaram Weizmann informalmente para ouvir sua opinião e este disse: “Não estou autorizado a falar em caráter oficial. Mas acho que é uma boa ideia e que deve ser levada adiante”. Em março, o parlamentar Winston Churchill compareceu perante a Comissão e se opôs à partilha, argumentando que tal divisão daria origem a uma guerra na qual os judeus da Palestina seriam exterminados em face da abissal diferença numérica existente entre os dois lados. Em junho, Sir Archibald Sinclair, líder do Partido Conservador da Inglaterra, ofereceu um jantar a Chaim Weizmann ao qual compareceram Churchill, o líder sionista britânico James de Rothschild e outros ilustres políticos. Quando Weizmann se referiu à ideia da partilha, ainda em gestação, Churchill foi incisivo: “Isso não passa de uma miragem. Vocês, judeus, têm que perseverar, perseverar e esperar!”
No dia 7 de julho de 1937, o gabinete britânico divulgou o relatório da Comissão Peel, com 435 páginas. O documento assinalou a conexão judaica com a Palestina ao longo de três mil anos, as vantagens obtidas pelos árabes por conta do fluxo do capital judaico investido na Palestina, pelo aumento da população árabe nas áreas urbanas desenvolvidas pelos judeus, pelos novos hospitais e clínicas que atendiam tanto a judeus quanto a árabes, além de destacar que a ação dos judeus contra a malária beneficiava a todos na Palestina, sem distinção. O documento ressaltou que no decorrer dos últimos vinte anos os árabes não tinham se afastado sequer uma polegada de sua forma contrária e irredutível ao abordar a Declaração Balfour e o mandato britânico. Em outro trecho, o relatório afirmou que o maior problema não eram os ataques dos árabes contra os judeus, nem contra os ingleses, mas os ataques dos árabes contra outros árabes que não se submetiam às determinações sectárias do Mufti.
Mais adiante o documento diz que o nacionalismo árabe, em vez de emanar de fatores positivos, só tinha como meta incentivar o ódio aos judeus. Mesmo assim, foram acolhidos os nacionalismos de ambas as partes como movimentos legítimos e, por fim, a Comissão Peel sugeriu uma tragicômica divisão da Palestina: os judeus ficariam com 13% do território e os árabes com 80%, cabendo o pouco restante ao Império Britânico, incluindo Belém e Jerusalém. A Comissão sugeriu, ainda, que os árabes locais se incorporassem à então Transjordânia.
O relatório acirrou ânimos entre os judeus, entre os árabes e também entre os ingleses, chegando a atravessar o Atlântico. Lloyd George, chanceler à época da Declaração Balfour, disse que adotar a proposta divisão seria a “afirmação do fracasso da nossa política externa”.
Dezenas de parlamentares, mesmo os simpáticos ao sionismo, tendo à frente Winston Churchill, também foram contrários. Nos Estados Unidos, o célebre magistrado Louis Brandeis manifestou-se contra aquela proposta de partilha e o fez por escrito numa carta endereçada a Felix Frankfurter, outro famoso magistrado americano. Desgostoso, Weizmann escreveu em seu diário: “O terrorismo árabe acaba de conquistar uma grande vitória”. No 20o Congresso Mundial Sionista, reunido em Zurique poucas semanas depois da divulgação do relatório, Chaim Weizmann pediu aos 484 delegados que aprovassem a partilha tal como fora sugerida porque “trata-se de uma proposta revolucionária que abre caminho para o nosso objetivo”. Ben Gurion também aprovou: “Por menor que seja o estado, de uma forma ou de outra ele poderá ser expandido no futuro”. Depois de acalorados debates, o plano da Comissão Peel foi aprovado por 300 votos contra 158 e 26 abstenções. Por seu turno, os árabes rejeitaram a totalidade do relatório e afirmaram que jamais reconheceriam um território judaico na Palestina por menor que fosse. A violência árabe prosseguiu até 1939, quando os ingleses emitiram o infame White Paper que além de proibir a imigração de judeus para a Palestina também anulou o relatório da Comissão Peel. Mas, a semente da solução por dois estados estava plantada e viria a frutificar dez anos depois de sua concepção.
A Segunda Guerra Mundial, de 1939 a 1945, provocou um hiato nas aspirações sionistas e o ishuv participou do conflito com a criação da Brigada Judaica que lutou incorporada às forças britânicas. Finda a guerra, do ponto de vista britânico, a situação na Palestina se tornara insustentável. No mar, os ingleses faziam de tudo para interceptar os navios da Haganá (exército clandestino judeu), que traziam imigrantes ilegais para a Terra Santa, e muitas vezes não eram bem sucedidos. Em terra, enfrentavam as ações da Irgun, organização também clandestina comandada por Menachem Begin, que atacava e sabotava sem cessar grande número de alvos militares britânicos, incluindo, com grande audácia, seu quartel-general no hotel King David, em Jerusalém.
No dia 27 de janeiro de 1947, teve início uma série de reuniões em Londres, com uma delegação árabe e outra judaica, separadamente. Após dez dias de conversações, os ingleses apresentaram às partes a possibilidade de uma prorrogação de quatro anos do mandato na Palestina, seguido de independência para ambas as partes, caso chegassem a um posterior entendimento e permissão para uma entrada limitada de judeus. Não houve acordo e em abril de 1947, o chanceler Ernest Bevin, ferrenho adversário do sionismo, que já havia remetido para o âmbito das Nações Unidas o problema da Palestina, decidiu jogar mais uma cartada. Propôs a criação de uma Comissão Especial das Nações Unidas Para a Palestina, a United Nations Special Committee on Palestine, ou seja, a sigla Unscopem inglês, que, a partir de junho, percorreria a região e apresentaria novas recomendações para a solução da questão entre árabes e judeus. Bevin julgava que poderia manipular o comitê em favor dos árabes e de seus próprios interesses.
A criação da Unscop agitou a delegação da Agência Judaica (órgão representativo do ishuv), que se encontrava nos Estados Unidos para acompanhar os trabalhos da ONU, instalada num grande rinque de patinação em Flushing Meadows, perto de Nova York. A delegação tinha à frente Moshe Sharett (futuro chanceler e primeiro-ministro de Israel) e seu braço direito, o economista David Horowitz. Ambos decidiram que a Agência Judaica deveria ter dois observadores junto à Unscop. Levaram este pleito à ONU, que o aceitou. Horowitz seria um deles. Àquela altura, encontrava-se em missão em Amsterdã um jovem de 32 anos de idade, militante da Agência Judaica em Londres, nascido na África do Sul, chamado Audrey Sacks, que se tornaria uma celebridade mundial e seria consagrado chanceler de Israel com o nome de Abba Eban. Chamado por Sharett para ir a Nova York e integrar-se como o segundo observador na Unscop, ele conta em sua autobiografia que voltou a Londres e correu para a livraria Foyle’s onde comprou tudo que havia sido publicado até então sobre as Nações Unidas e sobretudo sobre os seus procedimentos internos: “Foi a minha entrada na arena internacional”. Pouco adiante acrescentou: “Como pressenti que o trabalho a partir dos Estados Unidos seria longo, levei comigo, por minha conta, minha mulher Suzy”. Em Londres, antes de partir, Eban narra que se deparou com um ambiente imerso em rancor, a ponto de Bevin ter-se recusado a receber Weizmann, o que era uma absurda quebra no comportamento tradicional da chancelaria britânica. Além disso, membros da Câmara dos Comuns se mostraram céticos quanto à missão da Unscop, tendo um deles afirmado que o problema da Palestina só seria resolvido com guerra e não com um relatório. A propósito, num trecho muito significativo da autobiografia, Eban escreve: “Um dos momentos mais sensíveis da minha vida pública aconteceu quando eu, Horowitz e John Kimche (historiador e jornalista judeu de nacionalidade suíça), fomos ao encontro do diplomata egípcio Azzam Pasha, secretário-geral da Liga Árabe, no hotel Savoy, em Londres.  Horowitz foi o primeiro a falar. Disse que a presença dos judeus no Oriente Médio era um fato consumado e que, mais cedo ou mais tarde, os árabes teriam que aceitar essa realidade. Em seguida, apresentou um plano de acordo político, de garantias mútuas de segurança e de cooperação econômica. Azzam Pasha respondeu que o mundo árabe não estava propenso a nenhum entendimento, acrescentando que o plano de Horowitz era lógico e racional, mas que os destinos das nações não eram determinados por lógicas racionais. E enfatizou que nações não concedem, lutam. Disse que talvez os judeus poderíamos conseguir algo, mas que isso só daria através da força das armas, razão pela qual os árabes tentariam nos derrotar e porque qualquer acordo só seria aceitável segundo os termos da Liga Árabe”. Em seguida, conforme Eban escreve, Pasha foi dura e francamente explícito: “O mundo árabe vê os judeus como invasores e está pronto para lutar contra vocês”. Depois de duas horas de conversa, Kimche, Horowitz e Eban chegaram à rua atônitos. Eles não haviam percebido nenhum sinal de ódio nas palavras de Azzam Pasha que, inclusive, se referira aos judeus como primos. O que lhes aterrorizou foi a impassível postura árabe no sentido de ignorar a lógica, até mesmo a lógica do rancor, dando lugar a um cego fatalismo.
Chegando em Nova York, Eban juntou-se a Horowitz e os dois se dedicaram a analisar os onze nomes internacionais indicados para a constituição da Unscop. Chegaram à conclusão de que, com poucas exceções, não eram homens públicos ou diplomatas de primeira grandeza. O presidente do Comitê era o sueco Emil Sandstrom, juiz da Suprema Corte de Estocolmo em fim de carreira, mas uma pessoa conhecida por suas posições humanitárias. Nicholas Blum, da Holanda, tinha sido governador das Índias Orientais, atual Indonésia. Uma figura central era o juiz da Suprema Corte canadense Ivan Rand, magistrado probo e independente. O diplomata John D.L. Wood representava a Austrália e assim Eban se refere na autobiografia aos três indicados da América Latina: “Salazar, do Peru, era um estereótipo de embaixador de cinema, cabelos brancos, taciturno, austero e dono de um ar de mistério decerto adquirido no Vaticano, aonde servira. O dinâmico e loquaz Rodriguez Fabregat era do Uruguai e García Granados, da Guatemala, tinha experiência com os britânicos no que se referia ao conflito de seu país a respeito do território de Belize”. O nomeado da Checoslováquia foi Karl Lisicky, incerto quanto ao futuro de seu país, prestes a ser dominado pela União Soviética. Da Iugoslávia incorporou-se Vladimir Simic, diplomata veterano. O mundo islâmico se fez representar pelo indiano Sir Abdul Rahman, que, segundo a descrição de Eban, “era 120% britânico no sotaque e nos maneirismos” e o persa Nazrollah Entezam, diplomata de primeira categoria. A Unscop foi oficialmente confirmada pelas Nações Unidas no dia 15 de maio de 1947 e desembarcou na Palestina um mês depois. Abba Eban descreve uma escala em Malta, protetorado britânico, onde por controle remoto de Bevin, o Comitê foi tratado com uma descortesia que beirou à hostilidade.
Dos dias 18 de junho a 3 de julho a Unscop percorreu Jerusalém, Haifa, o Mar Morto, Hebron, Beersheva, Gaza, Jaffa, a Galiléia, Acre, Nablus, Tel Aviv, Tulkarm e Rehovot, além de visitar dezenas de kibutzim (colônias agrícolas coletivas). As audiências públicas da Unscop, constantes de depoimentos de judeus e árabes, aconteceram de 4 a 17 de julho, tendo a Agência Judaica apresentado um inacreditável total de 32 toneladas de documentos. As oitivas foram tão extensas que até mesmo o Partido Comunista da Palestina teve espaço para manifestar sua posição contra o sionismo.
No dia 19 de julho, parte dos membros da Unscop se deslocou até o porto de Haifa, aonde estava em curso o drama do navio Exodus, cujos 4.554 passageiros, sobreviventes do Holocausto, fizeram uma greve de fome que emocionou o mundo, mas mesmo assim foram impedidos pelos ingleses de pisar o solo da Terra Santa e deportados à força de volta para a Europa. Os componentes do Comitê ficaram horrorizados com o macabro espetáculo que presenciaram e ficaram ainda mais sensibilizados quando ouviram o testemunho do reverendo cristão John Stanley, que estivera a bordo do Exodus e implorou à Unscop que decidisse em favor dos judeus. Anos mais tarde, Golda Meir declarou que a intervenção de Stanley tinha sido crucial para a criação do Estado de Israel.
Depois da Palestina, a Unscop foi para o Líbano, onde foi recebida pelo primeiro-ministro Riad al-Sohld e pelo chanceler Hamid Franjieh, e manteve prolongada conferência com representantes da Liga Árabe e breve encontro com maronitas cristãos favoráveis ao sionismo. Em seguida, parte dos componentes do Comitê rumou para a Transjordânia com audiência marcada com o rei Abdullah. O monarca declarou que via com muita dificuldade a aceitação por parte dos árabes do estabelecimento de um estado judeu na Palestina, mas que ele mesmo não era completamente contrário a tal hipótese e que se a mesma se concretizasse, os palestinos deveriam fazer parte de seu reino.
O passo seguinte da Unscop, no dia 26 de julho, foi na direção de Genebra, de onde saiu um sub-comitê para percorrer as zonas da Alemanha e da Áustria ocupadas pelos britânicos e entrevistar centenas de sobreviventes judeus, mantidos em campos de refugiados. Mais de 90 por cento responderam que queriam emigrar para a Palestina. Nas semanas seguintes, a Unscop deu início à tarefa de redigir seu relatório final que constou de dez recomendações, sendo a primeira o fim do mandato britânico da Palestina e outras disposições de natureza econômica, além de dispor claramente que o território deveria ser partilhado entre árabes e judeus, conforme o estipulado e de acordo com um mapa anexado. A cerimônia de assinaturas do documento, em ordem alfabética, pelos onze membros da Unscop foi completada no Palácio das Nações, em Genebra, faltando 15 minutos para a meia-noite do dia 31 de agosto de 1947. O secretariado das Nações Unidas contabilizou que desde o dia de sua investidura até o final dos trabalhos, a Unscop havia recebido 27 mil comunicações, entre cartas e cartões postais. A Palestina a ser dividida contava com uma população de 1 milhão e 200 mil árabes e 570 mil judeus, cabendo às Nações Unidas a tutela de Jerusalém. O futuro Estado Judeu ficaria com 55% do território e 58% do total de seus habitantes. O Estado Árabe, com 45% da área e 99% dos habitantes. A decisão final sobre a partilha caberia à Assembleia Geral.
Abba Eban escreveu em sua autobiografia: “Nós tínhamos bons aliados. O presidente da Assembleia, Oswaldo Aranha, do Brasil, estava religiosamente devotado ao conceito da existência de um estado judaico. Ao seu lado estava a sólida e rotunda figura do secretário-geral, Trygve Lie, que tinha um interesse duplo em nosso sucesso: era necessário um acontecimento que desse ressonância às Nações Unidas na opinião pública mundial e, como socialista norueguês, tinha acompanhado de perto as perseguições nazistas em seu país”. David Horowitz e Moshe Sharett mais outros militantes trabalhavam 24 horas por dia. Telefonemas, cartas e telegramas percorriam febrilmente os continentes. Era preciso encontrar alguém nas Filipinas que tivesse acesso ao presidente e alguém, nos Estados Unidos, que fosse amigo do presidente da Libéria. Faltava convencer diversos países da América Latina e, muito mais difícil ainda, atrair a França e a Bélgica para a causa sionista. Dentre os embaixadores de fala espanhola, García Granados, da Guatemala, ex-Unscop, foi um gigante na defesa da causa sionista.
No dia 27 de novembro, quando a Assembleia Geral se reuniu, os líderes judeus eram uma só depressão. Se houvesse a votação, estava longe a possibilidade de serem alcançados os dois terços dos votos. A única alternativa era pedir aos embaixadores dos países favoráveis à partilha que ocupassem a tribuna e discursassem o máximo possível para que o horário extrapolasse, obrigando o adiamento da sessão. O representante do Uruguai, Rodriguez Fabregat, também ex-Unscop, foi particularmente brilhante, falando por longo tempo, sem, no entanto, deixar transparecer que se tratava de uma obstrução. Ao anoitecer, Oswaldo Aranha cedeu aos apelos da liderança judaica e num gesto amigável deu a sessão por encerrada. O dia seguinte seria feriado nos Estados Unidos, o Dia de Ação de Graças, e, portanto, a Assembleia só voltaria a se reunir dois dias depois. Esse intervalo de 24 horas acabou se tornando crucial. Foi nesse tempo que, a exemplo de outros países, as Filipinas e a Libéria asseguraram seus votos pela partilha. A França, inclinada a votar contra, dava sinais de que poderia mudar de ideia. À última hora, o chefe da delegação árabe, o libanês Camile Chammoun, desencavou uma resolução do comitê político das Nações Unidas, através da qual uma comissão formada pelos embaixadores da Austrália, Tailândia e Islândia tentaria uma solução de compromisso entre as partes. O relatório final caberia ao islandês Thor Thors.
Na manhã do dia 29 de novembro de 1947, o embaixador da Tailândia, Príncipe Wan, deixou Nova York às pressas, alegando que havia um princípio de revolução em seu país. Foi a maneira que encontrou para fugir à pressão árabe de votar contra a partilha.
De qualquer maneira, a sessão seria aberta por Thor Thors; Abba Eban decidiu procurá-lo de manhã cedo no Hotel Barclay. Disse-lhe que se o povo judeu triunfasse com a partilha, estaria realizando um sonho duas vezes milenar. Se fracassasse, esse sonho poderia ficar extinto por muitas gerações. Tudo dependeria da atmosfera que viesse a ser criada por ele na abertura dos trabalhos. A emocionada resposta de Thors deixou Eban desconcertado. Ele disse que a Islândia estava menos remota do destino judaico do que se poderia supor porque a cultura de seu país estava impregnada de lições bíblicas, porque seu povo lutava contra terríveis adversidades da natureza e, portanto, bem compreendia a luta dos judeus.
À tarde, era indescritível a tensão nas Nações Unidas, com frenéticos repórteres, fotógrafos e cinegrafistas de todas as partes do mundo, os embaixadores sendo assediados nos corredores, as galerias lotadas. Aberta a sessão, Oswaldo Aranha deu a palavra a Thor Thors. O embaixador islandês declarou de forma imperativa estar convencido de que era impossível um acordo e que cabia à Assembleia Geral tomar uma decisão. Camille Chamoun ainda tentou obter novo adiamento, mas foi obstado por Aranha, apoiado pelos embaixadores Herschel Johnson, dos Estados Unidos, e Andrei Gromiko, da União Soviética.
Quando os discursos terminaram e Oswaldo Aranha deu início à votação, chamando os países por ordem alfabética, um manto de solenidade cobriu a Assembleia. Os votos foram-se alternando, mais para “sim” do que para “não” e a vitória sionista tornou-se evidente quando a França disse “oui”. Ao término, Aranha declarou com voz firme: “São 33 a favor, 13 contra, 10 abstenções e uma ausência. A resolução está adotada”. Já era madrugada em Jerusalém. A multidão dançava e cantava nas ruas. Sozinho em seu gabinete da Agência Judaica, David Ben-Gurion mantinha a cabeça abaixada e coberta pelas palmas das mãos. Ele avistava a fumaça de uma guerra terrível que viria e que não poderia ser evitada.
BIBLIOGRAFIA
Eban, Abba, An Autobiography, Random House, 1977.
Gavison, Ruth, The Two-State Solution, Bloomsbury Academy, 2013.
Louis, William Roger e Stookey, Robert M., The End of the Palestine Mandate, University of Texas Press, 1988.
Cohen, Michael J., Palestine and the Great Powers 1935-1948, Princeton University Press.
Zevi Ghivelder é escritor e jornalista
Os votos
Votação referente à Partilha da Palestina na Assembleia Geral das Nações Unidas, no dia 29 de novembro de 1947
A favor: 33
África do Sul, Austrália, Bélgica, Bolívia, Brasil, Bielorússia, Canadá, Checoslováquia, Costa Rica, Dinamarca, Equador, Estados Unidos, Filipinas, França, Guatemala, Haiti, Holanda, Islândia, Libéria, Luxemburgo, Nicarágua, Noruega, Nova Zelândia, Panamá, Paraguai, Peru, Polônia, República Dominicana, Suécia, Ucrânia, União Soviética, Uruguai e Venezuela.
Contra: 13
Afeganistão, Arábia Saudita, Cuba, Egito, Grécia, Iêmen, Índia, Irã, Iraque, Líbano, Paquistão, Síria e Turquia.
Abstenções: 10
Argentina, Chile, China, Colômbia, El Salvador, Etiópia, Honduras, Iugoslávia, México e Reino Unido.
Ausência: 1
Tailândia

terça-feira, 12 de dezembro de 2017

OITO CONSIDERAÇÕES PARA OS OITO DIAS DE CHANUCÁ

OITO CONSIDERAÇÕES PARA OS OITO DIAS DE CHANUCÁ

Chanucá

Chanucá
Ano após ano, à época de Chanucá, as luzes são acesas em todos os lares judaicos para celebrar os acontecimentos daqueles dias, com cânticos de louvor a D'us. assim, os caminhos de Israel são iluminados pela mensagem eterna: "a luz espiritual de Israel nunca será apagada".

A festa de Chanucá inicia-se no dia 25 de Kislev à noite, e o acendimento das velas vai até 3 de Tevet à noite. Desde a histórica vitória dos macabeus sobre os assírios, ocorrida em 165 a.E.C., os judeus celebram Chanucá durante oito dias. A festividade comemora a preservação do espírito de Israel. Assim sendo, celebra-se Chanucá apenas espiritualmente, não havendo outros mandamentos a respeito. Além disso, durante os oito dias da festa, é proibido qualquer forma de luto público ou jejum, podendo-se, no entanto, trabalhar.
A chanuquiá - candelabro de oito braços especial da festividade - deve ser acesa diariamente após o aparecimento das estrelas, com exceção da véspera do Shabat, quando deve ser acesa antes do pôr-do-sol. Qualquer material incandescente pode ser usado para acendê-la, mas deve-se preferir a luz intensa do azeite ou de velas de cera ou parafina, grandes o bastante para permanecer ardendo no mínimo por meia hora. Por isso, se uma vela apagar durante esse tempo - com exceção da noite de Shabat, recomenda-se reacendê-la. Num lugar de destaque, no candelabro, há uma outra vela auxiliar, de preferência de cera, chamada shamash. Algumas comunidades usam o shamash para acender as demais velas; outras, uma vela adicional.
Na sexta-feira à noite, véspera do Shabat, as velas devem ser acesas antes do pôr-do-sol e antes das velas de Shabat. Nesse dia devem ser usadas velas maiores, para que ardam até meia-hora após o início do Shabat. Na noite seguinte, as velas de Chanucá só podem ser preparadas e acesas após o término do Shabat e da Havdalá.
Na primeira noite, acende-se a vela da extrema direita e, em cada noite subseqüente, acrescenta-se uma nova do lado esquerdo à primeira e, assim, sucessivamente. A 1ª vela a ser acesa é sempre a nova, procedendo-se da esquerda para a direita.
Na segunda noite, por exemplo, acendem-se duas. A primeira vela deve ser colocada do lado direito da chanuquiá e a segunda é adicionada à esquerda da primeira. Durante os oito dias, uma nova luz é adicionada, noite após noite, até completar as oito. Por ter um propósito sagrado, a luz da chanuquiá não poderá ser usada para nenhum outro fim, como trabalho ou leitura. Todos os membros da família devem estar presentes na hora do acendimento das velas. Desde que possam segurar as velas com segurança, as crianças têm o mérito de participar, acendendo-as após ter sido acesa a primeira vela da noite.
As mulheres têm a mesma obrigação; portanto, em um lugar onde só haja mulheres ou se o marido estiver viajando ou chegar tarde demais, cabe a elas acender as velas e pronunciar as bênçãos.
Nossos sábios enfatizavam a importância da participação feminina na cerimônia, pois grande parte da milagrosa vitória militar dos judeus sobre seus inimigos se deve a Yehudit. Rabi Yehoshua Ben-Levi diz: "As mulheres são obrigadas a cumprir a mitzvá de Chanucá, pois elas também são parte do milagre". Quando o povo de Israel não vivia disperso, as luzes eram acesas na parte externa das casas, à esquerda de quem entra, ou seja, em frente à mezuzá.
Atualmente, há vários costumes sobre onde colocar a chanuquiá. Alguns a colocam sobre uma mesa, na janela que dá para a via pública, ou no lado esquerdo da porta de entrada, em frente à mezuzá. Outros a colocam em lugar especial, na sala. Deve ser colocada em uma altura entre três e dez palmos do chão, porém não a mais de 9,6 metros, em lugar especial, isolado e de destaque.
Nas sinagogas, onde também se acendem as velas para disseminar as lições do milagre, a chanuquiá deve estar na mesma posição do candelabro do Templo de Jerusalém. Mas o acender das velas na Casa de Orações não nos exime da obrigação de acendê-las em casa.

Todas as noites, acende-se primeiro o shamash, depois pronunciam-se as seguintes bênçãos:
Baruch Atá A-do-nai, E-lo-hê-nu Mêlech haolam, asher kideshánu bemitsvotav, vetsivánu lehadlic ner Chanucá.

Bendito sejas Tu, A-do-nai, nosso D-us, Rei do Universo, que nos santificaste com Teus mandamentos, e nos ordenaste acender a vela de Chanucá.


Baruch Atá A-do-nai, E-lo-hê-nu Mêlech haolam, sheassá nissim laavotênu, bayamim hahêm, bazeman hazê.

Bendito sejas Tu, A-do-nai, nosso D-us, Rei do Universo, que fizeste milagres para nossos antepassados, naqueles dias, nesta época. 


Na primeira noite, depois de recitar as duas bençãos recita-se o shehecheyánu: 


Baruch Atá A-do-nai, E-lo-hê-nu Mêlech haolam, shehecheyánu vekiyemánu vehiguiyánu lazeman hazê.

Bendito sejas Tu, A-do-nai, nosso D-us, Rei do Universo, que nos deste vida, nos mantiveste e nos fizeste chegar até a presente época. 


Na segunda noite e em todas as outras subseqüentes recita-se:


Baruch Atá A-do-nai, E-lo-hê-nu Mêlech haolam, asher kideshánu bemitsvotav, vetsivánu lehadlic ner Chanucá.

Bendito sejas Tu, A-do-nai, nosso D-us, Rei do Universo, que nos santificaste com Teus mandamentos, e nos ordenaste acender a vela de Chanucá.



Baruch Atá A-do-nai, E-lo-hê-nu Mêlech haolam, sheassá nissim laavotênu, bayamim hahêm, bazeman hazê.

Bendito sejas Tu, A-do-nai, nosso D-us, Rei do Universo, que fizeste milagres para nossos antepassados, naqueles dias, nesta época.


Em seguida, acendem-se as velas da chanuquiá com o shamash.

Após acender as velas, coloca-se o shamash à esquerda da chanuquiá, de modo que fique mais alto do que as chamas da chanuquiá, e recita-se:


Hanerot halálu ánu madlikim al hanissim veal hapurkan veal haguevurot veal hateshuot, veal haniflaot, sheassíta laavotênu, bayamim hahêm, baeman hazê, al yedê cohanêcha hakedoshim. Vechol shemonat yemê Chanucá, hanerot halálu côdesh hem, veen lánu reshut lehishtamesh bahen êla lir'otan bilvad, kedê lehodot lishmecha, al nissêcha, veal nifleotêcha, veal yeshuotêcha. 


Acendemos estas luzes em virtude das redenções, milagres e feitos maravilhosos que realizaste para nossos antepassados, naqueles dias, nesta época, por intermédio de Teus sagrados sacerdotes. Durante todos os oito dias de Chanucá, estas luzes são sagradas, não nos sendo permitido fazer qualquer uso delas, apenas mirá-las, a fim de que possamos agradecer e louvar Teu grande nome, por Teus milagres, Teus feitos maravilhosos e Tuas salvações.
Perguntas e respostas sobre As Luzes de Chanucá
A que horas devemos acender as velas de Chanucá?
As luzes devem ser acesas após anoitecer. Algumas autoridades aconselham acendê-las logo do pôr do sol. Outras, de 13 a 40 minutos mais tarde. Entretanto, se alguém não tem a possibilidade de acendê-las depois do anoitecer, pode fazê-lo antes, com a condição de que as velas fiquem acesas durante pelo menos meia hora depois da saída das estrelas.

Onde devemos colocar a chanuquiá?
O Talmud ensina que a chanuquiá deve ser colocada ao lado da porta de entrada, de tal forma que fique do lado esquerdo da pessoa que estiver entrando na casa. A mezuzá fica do lado direito.
Atualmente, costuma-se colocar a chanuquiá dentro de casa, sobre uma mesa, em lugar especial. Em certas comunidades a mesa, é colocada perto de uma janela, de frente para a rua, para cumprir com o mandamento de propagar o milagre . Em outras, no lado esquerdo da porta de entrada, frente à mezuzá. Ou, ainda, há quem coloque a chanuquiá em uma mesa baixa para que as crianças alcancem as velas.

Há alguma lei que determine que a mulher ou o homem deva acender a luz de Chanucá?
Todas as pessoas devem cumprir o preceito de acender as velas, portanto mulheres e homens são igualmente obrigados a acender as luzes de Chanucá.

Podemos ler aproveitando a luz da chanuquiá?
Não. As velas da chanuquiá não podem ser usadas para nenhum outro propósito, senão o de propagar o milagre de Chanucá. Assim, não podemos, por exemplo, jantar aproveitando a luz da chanuquiá.

É verdade que não se pode trabalhar enquanto as luzes estiverem ardendo?
Nossa atenção deve estar centrada na luz durante a meia hora em que ardem as velas. Por isso, as mulheres costumam não fazer tarefas domésticas durante o tempo obrigatório do acendimento das velas.

Podemos acender as demais luzes com uma das luzes da chanuquiá?
É proibido usar uma luz que representa uma noite de Chanucá para acender as demais ou para qualquer outro propósito. Para isto, utiliza-se o shamash.

O que fazer se uma das luzes da chanuquiá se apagar ? 
Depende do local onde a chanuquiá estiver e se é shabat. Se o lugar onde colocamos a chanuquiá é o adequado, já que a mitzvá é o ato de acender as velas, e uma delas se apagar depois da bênção, não há necessidade de reacendê-la. Mas se o lugar onde foi colocada a chanuquiá não é um local adequado, somos obrigados a reacendê-la. No shabat não podemos reacendê-la.

O que fazer se a luz do shamash se apagar? 
Se não for shabat, poderá ser reacesa usando fósforos ou outra vela, mas nunca uma das luzes da chanuquiá.

Podemos apagar as luzes da chanuquiá?
Sim, após estas ficarem acesas o tempo mínimo,ou seja, meia hora após a saída das estrelas. Só no shabat é proibido apagá-las.

Na sexta-feira, quando temos que acender as velas?
Na sexta-feira à tarde, logo antes de acender as velas de shabat. Como precisamos acendê-las 18 minutos antes do início do shabat, é melhor usar naquele dia velas maiores para a chanuquiá, para que durem pelo menos meia hora após a saída das estrelas.

E no sábado? Acende-se antes ou depois da Havdalá? 
A maioria das autoridades rabínicas recomenda acender a chanuquiá após a Havdalá, já que esta é o término do Shabat. Em cada lar, deve-se acender a chanuquiá depois da Havdalá. Somente na sinagoga a chanuquiá pode ser acesa antes da Havdalá.

Oito considerações para os oito dias de Chanucá

Oito considerações para os oito dias de Chanucá
Há 22 séculos, quando a Terra de Israel estava sob ocupação do Império sírio-grego, o Rei Antíoco IV emitiu uma série de decretos malignos para subjugar e humilhar o Povo Judeu, visando A forçá-lo a abandonar o Judaísmo e A abraçar o helenismo. Antíoco proibiu o estudo da Torá e o cumprimento de muitos de seus mandamentos, e ergueu uma estátua de uma divindade grega no Templo Sagrado de Jerusalém.
Edição 98 - Dezembro de 2017

Em resposta aos cruéis decretos de Antíoco e seu empenho de extirpar o Judaísmo, um grupo de judeus intrépidos, os Macabeus, enfrentou as forças sírio-gregas, superpotência da época. Após três anos de guerra, os Macabeus tiveram uma vitória espetacular contra o exército mais poderoso da Antiguidade. Após vencer Antíoco e seus exércitos, libertaram Jerusalém, reinauguraram o Templo Sagrado e reacenderam a Menorá – o candelabro de sete braços –, valendo-se apenas de um jarro de azeite de oliva ritualmente puro encontrado em meio aos escombros. Todos os outros jarros de azeite ritualmente puro para o serviço no Templo, que levavam o selo do Cohen Gadol, o Sumo Sacerdote, tinham sido propositalmente profanados pelos sírio-gregos.
Esse único jarro continha azeite que daria para acender a Menorá durante um único dia – e eram necessários oito para produzir mais azeite ritualmente puro. Os Macabeus usaram esse jarro; mas o azeite, milagrosamente, ardeu durante oito dias – o prazo necessário para que fosse produzido mais azeite ritualmente puro.
Para comemorar esses dois milagres – o azeite e a vitória dos Macabeus –, celebramos a festa de Chanucá durante oito dias. O triunfo militar desses valentes judeus foi, como dizemos em nossas orações, uma vitória dos poucos contra os muitos, dos fracos contra os fortes. O profeta Zechariah resumiu o acontecimento de forma poética: “‘Não pelo poder nem pela força, mas pelo Meu Espírito’, diz o Eterno”. O milagre do azeite que se seguiu à vitória militar foi um sinal Divino de que os judeus tinham vencido a guerra apenas porque o Eterno, D’us Todo Poderoso, tinha operado milagres em seu favor. O suprimento de azeite para um dia milagrosamente ardeu durante oito não apenas porque esse era o mínimo tempo necessário para produzir azeite ritualmente puro, mas porque, segundo a Torá, o número oito representa o sobrenatural, o milagroso. Esse fenômeno sobrenatural assinalava que a Divina Providência possibilitara o triunfo dos Macabeus, ainda que eles não tivessem nem a força nem o poder nem os armamentos nem os homens para vencer a máquina de guerra sírio-grega. Essa vitória militar significou a sobrevivência do Judaísmo e, por conseguinte, do Povo Judeu. A festa de Chanucá, portanto, não é apenas a celebração de milagres. Comemora, também, a eternidade da Torá e do Povo de Israel.
Este ano, Chanucá se inicia em uma terça-feira à noite, 12 de dezembro de 2017. Na primeira noite da festa, acendemos um jarro de azeite ou uma vela; na segunda noite, duas; na terceira, três, e assim por diante. Na oitava e última noite, acendemos todos os oito jarros de azeite ou velas da Chanuquiá – o candelabro de oito braços reminiscente da Menorá de sete braços do Templo Sagrado de Jerusalém.
Chanucá é uma das festas judaicas mais apreciadas. Suas luzes são queridas não apenas para o Povo Judeu, mas para muitas pessoas de outras religiões. Uma Chanuquiá é acesa na Casa Branca e no Kremlin e líderes políticos do mundo todo, inclusive do Brasil, a acendem. Chanucá é reconhecida de forma ampla porque seus temas e lições são atemporais e universais. São relevantes não apenas para o Povo Judeu, mas para todas as pessoas de bem no mundo. Suas luzes nos ensinam que cedo ou tarde, a luz triunfa sobre a escuridão, a bondade sobre a maldade, a justiça sobre a iniquidade e a santidade sobre o profano.
Chanucá e suas luzes transmitem inúmeras mensagens e lições. Preparamos, pois, oito considerações sobre Chanucá – uma para cada um dos oito dias da Festa das Luzes.
1º dia - Chanucá na Torá
Chanucá e seus mandamentos não são mencionados explicitamente na Torá, pois os eventos comemorados na festa ocorreram mais de 1.000 anos após D’us ter dado a Torá ao Povo Judeu. Moshé terminou de transcrever o Pentateuco – os Cinco Livros da Torá – no ano de 2488 após a Criação (ano de 1273 AEC no calendário gregoriano), e os milagres de Chanucá ocorreram nos anos de 3621-3622 (ano de 140-139 AEC no calendário gregoriano). No entanto, D’us, que é Onisciente e acima do tempo e de todas as demais limitações, incluiu alusões à Chanucá na Torá. Isso não surpreende, pois a Torá é o projeto de toda a Criação: todo evento de maior ou menor porte – já ocorrido ou que um dia ocorrerá – tem fundamento ou alusão no Pentateuco.
Seguem-se algumas das alusões à Chanucá encontradas nos Cinco Livros da Torá:
• A 25a palavra na Torá é Or, “luz”. Começamos a acender as luzes de Chanucá na noite do 25o dia do mês judaico de Kislev.
• Durante a jornada de 40 anos dos judeus pelo deserto a caminho da Terra Prometida, eles acamparam em diversos lugares. O 25º lugar era chamado Chashmoná. Isso é uma alusão à família de sacerdotes, os Chashmonayim, que lideraram os Macabeus na luta contra os sírio-gregos.
• O 23o capítulo de Levítico, terceiro livro da Torá, descreve os vários feriados judaicos. Logo a seguir, no início do capítulo 24, vemos o mandamento de acender a Menorá. Isso é uma alusão à Chanucá – nossa festividade ligada ao acendimento da Chanuquiá - a Menorá de oito braços.
• O capítulo 7 de Números, quarto livro da Torá, descreve as oferendas trazidas pelos líderes das tribos após a inauguração do Mishkan – o Tabernáculo. O capítulo 8 se inicia com as seguintes palavras: “O Eterno falou a Moshé, dizendo: ‘Fala a Aaron e diz-lhe: Quando acenderes as luzes, faz de modo que as sete luzes iluminem a luz central da Menorá’ ”. Vemos, aqui, uma conexão entre a inauguração do Tabernáculo – que foi o predecessor do Templo Sagrado de Jerusalém – e o acendimento da Menorá. Na história de Chanucá, depois que os Macabeus venceram a guerra, os judeus restauraram e reinauguraram o Templo Sagrado, novamente acendendo a Menorá.
Além disso, o Midrash nos ensina que após ser inaugurado o Tabernáculo, D’us ordenou que cada líder de tribo trouxesse uma oferenda. Uma tribo foi excluída – a de Levi. D’us ordenou a Aaron, o primeiro Sumo Sacerdote e chefe da tribo de Levi, que não trouxesse oferenda, mas que acendesse a Menorá. D’us instruiu Moshé a dizer a seu irmão Aaron que não se aborrecesse com o fato de sua tribo não trazer sacrifícios, já que estes durariam apenas enquanto existisse o Templo Sagrado – ao passo que as luzes da Menorá continuariam a ser acesas por todo o sempre. A mensagem de D’us a Aaron aludia às luzes da Chanuquiá, que são uma recordação das luzes da Menorá do Templo. E de fato, já transcorreram quase 2.000 anos desde que foram interrompidos os serviços de sacrifício, mas as luzes da Chanuquiá, remanescentes diretas da Menorá, nunca deixaram de brilhar. Apesar da ausência do Templo Sagrado de Jerusalém, elas continuam a iluminar a escuridão que há no mundo.
2º dia – As 36 velas de Chanucá
Este ensinamento provém dos escritos de um gigante espiritual, Cabalista, o Rabi Levi-Yitzchak Schneerson, pai do Lubavitcher Rebe.
Durante a festa de Chanucá, acendemos um total de 36 luzes: 1 +2 + 3 + 4 + 5 + 6 + 7 + 8. Esse número não é acidental – como nada na vida o é, especialmente em assuntos diretamente relacionados à Torá. Rabi Levi-Yitzhak Schneerson revela um profundo significado desse número, associado a um dos principais temas de Chanucá.
Está escrito na passagem Al Hanissim, recitada na oração da Amidá e no Bircat Hamazon durante os oito dias de Chanucá, que os sírio-gregos se empenharam em “Fazer [Israel] esquecer a Sua Torá”.
Em sua tentativa de fazer com que isso acontecesse, os sírio-gregos visaram à Torá Oral, que explica e elucida a Torá Escrita. Os invasores perceberam que a própria Torá Escrita, tão amplamente documentada em milhares de rolos, jamais seria esquecida. Sua estratégia foi, então, erradicar todos os vestígios da Torá Oral, que era preservada e transmitida oralmente de uma geração à outra. Sem a Torá Oral, é impossível entender corretamente a Torá Escrita e cumprir seus mandamentos. Os sírio-gregos perceberam que se conseguissem fazer o Povo Judeu esquecer a Torá Oral, o fim do Judaísmo seguir-se-ia.
Séculos após o milagre de Chanucá, a Torá Oral foi finalmente redigida. Seu núcleo, conhecido como a Mishná, foi editado pelo Rabi Yehudá HaNassi. Nas gerações seguintes, mais conteúdo da Torá Oral foi escrito, formando-se os dois principais corpos da Lei Judaica: um em Israel, o Talmud Yerushalmi (Talmud de Jerusalém), e o outro na Babilônia – o Talmud Bavli (Talmud da Babilônia). Este último, em geral mais estudado do que o de Jerusalém, contém comentários sobre exatamente 36 tratados da Mishná, que é o número total de velas acesas durante Chanucá. As 36 velas de Chanucá celebram a sobrevivência da Lei Oral, que foi transcrita e preservada nos 36 tratados do Talmud Bavli.
Há outra conexão entre Chanucá e a Torá Oral. O editor do Talmud Bavli foi Rav Ashi, cujo nome é foneticamente ligado a Esh, palavra em hebraico para “fogo” – o veículo para a celebração de Chanucá.
Pode-se traçar uma terceira conexão entre as 36 velas de Chanucá e a Torá Oral. Os principais guardiães da Torá Oral eram os 71 membros do Sanhedrin, a Suprema Corte de Israel. Para que qualquer decisão do Sanhedrin fosse obrigatória, era necessário haver uma maioria de, no mínimo, 36 juízes.
Quando acendemos a Chanuquiá, devemos lembrar que estamos fazendo mais do que celebrar uma vitória militar e o milagre do azeite. Estamos celebrando a sobrevivência da Torá Oral, sem a qual a Torá Escrita não pode ser entendida. Sem a Torá Oral, o Judaísmo autêntico não pode sobreviver. As 36 luzes de Chanucá simbolizam, assim, o triunfo e a eternidade da Torá e, por conseguinte, do Povo de Israel.
3º dia – O Povo Judeu é uma Vela Eterna
Nossos Sábios lançam uma pergunta intrigante acerca do mandamento de acender as luzes de Chanucá. Durante as oito noites da festividade, acendemos azeite de oliva ou velas e recitamos a benção “She-assá Nissim La-Avotenu (“Que fez milagres para nossos antepassados”). Mas, qual o milagre que estamos celebrando na primeira noite de Chanucá? O milagre do azeite é o fato de uma quantidade suficiente para apenas um dia ter durado oito. Algo de miraculoso ocorreu do segundo ao oitavo dia, mas era natural que o suprimento encontrado ardesse durante um dia. O fato de o jarro de azeite ritualmente puro ter mantido a Menorá acessa durante o primeiro dos oito dias não constituiu milagre algum – era o esperado. O milagre foi continuar a queimar nos demais sete dias. Por que, então, recitamos a bênção “Que fez milagres para nossos antepassados” na primeira noite de Chanucá?
Uma das respostas é que o milagre celebrado no primeiro dia foi o fato de os Macabeus terem encontrado um jarro de azeite que não havia sido profanado pelos sírio-gregos. Em outras palavras, na primeira noite de Chanucá, celebramos o milagre da “sobrevivência” desse jarro de azeite. De fato, não havia razão para se supor que algo tivesse sobrevivido à profanação sistemática feita pelos sírio-gregos e seus seguidores no Templo Sagrado. No entanto, quando os Macabeus reconquistaram o Templo, insistiram em procurar azeite ritualmente puro, ainda que as chances de encontrar qualquer vestígio fossem mínimas. E por que procuraram, assim mesmo? Porque tinham fé de que mesmo em meio à maior tragédia, algo sobreviveria. E estavam certos. Um jarro de azeite ritualmente puro realmente sobreviveu. Por alguma razão, inexplicável, os invasores não o encontraram.
O milagre celebrado na primeira noite de Chanucá é o da fé pura, total e simples – a fé em que, apesar de toda a destruição perpetrada, algo precioso, sagrado e puro restaria para que dali os judeus pudessem se erguer e começar de novo. Portanto, a primeira noite de Chanucá celebra o próprio fato de um pouco de azeite ritualmente puro ter sobrevivido à destruição. Não era muito – apenas a quantidade para um dia – mas aquilo milagrosamente manteve acesa a Menorá durante oito dias – tempo suficiente para que mais azeite ritualmente puro fosse produzido.
Esse milagre simboliza um dos temas principais na História Judaica. Várias foram as ocasiões na longa e árdua caminhada de nosso povo em que tudo parecia perdido. Uma outra nação teria desistido, em meio ao desespero. O Povo de Israel vivenciou a destruição de dois Templos Sagrados e foi expulso da Terra de Israel. Na Diáspora, foi submetido a perseguições e expulsões constantes, aos massacres dos Cruzados, às fogueiras da Inquisição espanhola, aos pogroms e, acima de tudo, ao Holocausto. Mas, de um modo ou outro, os judeus não desistiram. Não se prostraram e choraram. Juntaram o pouco que restara, reconstruíram nosso povo e brilharam de forma ainda mais vibrante do que antes.
A luz do Judaísmo sempre se recusou a ser apagada. Pelo contrário, sempre que a escuridão ameaça extingui-la, consegue brilhar com intensidade ainda maior. O resultado foi que as maiores catástrofes na História Judaica foram seguidas pelos maiores triunfos do Povo Judeu. O estudo e a disseminação da Cabalá floresceram após a Inquisição na Espanha. O retorno dos judeus à Terra de Israel e a Jerusalém, bem como a disseminação do Judaísmo pelos quatro cantos do mundo, ocorreram pouco após o Holocausto.
As luzes de Chanucá ensinam ao Povo Judeu e a toda a humanidade que o poder do espírito humano de vencer qualquer dificuldade não tem limites. A festa de Chanucá nos faz recordar, repetidamente, que temos que nos recusar a aceitar a derrota.
O jarro de azeite ritualmente puro que sobreviveu à destruição representa o Povo Judeu. Somos uma Ner Tamid – uma Vela Eterna – cuja luz perene não há potência na Terra que possa extinguir.
4º dia - Um choque de civilizações: Atenas versus Jerusalém
É comum ouvirmos, atualmente, a expressão “choque de civilizações”. A história de Chanucá foi um dos primeiros grandes choques de civilizações, travado entre os gregos da Antiguidade e os judeus – entre Atenas e Jerusalém.
Não se pode negar que os gregos produziram uma das civilizações mais extraordinárias na história humana. Seu legado dura até hoje. O mundo, particularmente a Civilização Ocidental, deve muito à Grécia Antiga. Eles geraram filósofos como Sócrates, Platão e Aristóteles; historiadores como Heródoto e Tucídides, e dramaturgos como Sófocles e Ésquilo. Os antigos gregos foram mestres na Arte e na Arquitetura, entre inúmeros outros campos do conhecimento humano. Foram grandes pensadores, linguistas, artistas, intelectuais, desportistas, líderes políticos e guerreiros. Ainda assim, essa superpotência foi vencida por um grupo pequeno de combatentes judeus, conhecidos como os Macabeus e, a partir de então, entrou em declínio. A Grécia Antiga desapareceu para nunca ressurgir. Hoje, vive apenas nos livros de História: os descendentes dos gregos da Antiguidade não mais vivem em Atenas nem em outro lugar qualquer. Por sua vez, o minúsculo Povo Judeu, destituído de seu Lar e perseguido, sobreviveu a 2.000 anos de exílio, perseguições constantes e mesmo genocídio, e hoje vive soberano em sua Pátria ancestral e eterna. Seus filhos brincam, hoje, nas ruas de Jerusalém e falam a mesma língua que os Profetas usavam há 3.000 anos.
Como explicar que um dos maiores impérios de todos os tempos tenha perecido e um povo minúsculo tenha sobrevivido e florescido? As respostas são inúmeras. Uma delas, óbvia, é a Divina Providência. D’us assegurando a eternidade do Povo de Israel é um tema constante em nossas orações e celebrado em nossas datas sagradas, inclusive em Chanucá. Mas há outra resposta que também explica o choque de civilizações entre os antigos gregos e os judeus.
Os gregos antigos, que acreditavam em várias divindades, não acreditavam em um D’us único, que ama e Se preocupa com tudo e todos. A Grécia Antiga deu ao mundo o conceito de tragédia. Para seu povo, os seres humanos nasciam para se empenhar e, às vezes, atingiam a grandeza. Mas para eles a vida não tinha um propósito supremo. De acordo com sua cultura, o Universo desconhecia e não se importava com o destino do homem.
Para o Judaísmo, esse conceito é um anátema. Os judeus ensinaram ao mundo que estamos aqui na Terra porque D’us nos criou com amor. O Judaísmo ensina que D’us está preocupado não apenas com o mundo em sua totalidade, mas também com o destino de cada uma de suas criaturas. O Judaísmo deu à humanidade a ideia de que a vida tem significado e propósito, pois o mundo e todos os que o habitam foram criados e são supervisionados por um Ser Infinito que está intimamente envolvido com absolutamente todos os detalhes de Sua criação.
As civilizações cujos conceitos fundamentais são a tragédia e a futilidade da existência inevitavelmente se desintegram. Povos destituídos de qualquer senso de significado e propósito superiores não possuem as convicções morais das quais depende a continuidade. Aqueles que creem que a vida é fútil e destituída de propósito sacrificam a felicidade em troca do prazer. Vendem o futuro pelo presente. Negligenciam sua alma, que é eterna, e apenas alimentam o corpo, que é temporário. Tais civilizações hedonistas, cedo ou tarde, perdem a paixão, a energia, a sabedoria e a direção que lhes trouxe grandeza. A decadência espiritual inevitavelmente é seguida pelo fim de uma civilização, mesmo de uma tão grandiosa como o foi a Grécia Antiga. Em nítido contraste, o Judaísmo e sua cultura de esperança, propósito e amor, sobreviveram. As luzes de Chanucá são um símbolo dessa sobrevivência.
A Acrópoles de Atenas sobreviveu, mas os antigos gregos, não. O Templo Sagrado de Jerusalém não sobreviveu, mas o Povo Judeu, sim. Os judeus ainda estão nesta Terra por causa da Divina Providência, mas também porque nosso povo sempre acreditou no poder da luz e de tudo o que representa. Chanucá nos ensina que uma vela de esperança pode parecer pouco, mas dela pode depender a própria sobrevivência de toda uma civilização.
5º dia - A Luz da Guerra e a Luz da Paz
Maimônides, o maior filósofo judeu, que produziu uma obra que é um dos pilares da Lei Judaica, escreveu: “O mandamento das luzes de Chanucá é muito precioso. Quem não tem meios de comprar as suas luzes deve vender algo de seus bens ou, se necessário, tomar um empréstimo, para poder cumprir essa mitzvá”.
Uma pergunta: E se em uma tarde de 6a feira, durante a festividade de Chanucá, a pessoa se vê com apenas uma vela? Deve usá-la como vela de Shabat ou de Chanucá? Não dá para usá-la para os dois propósitos. A lógica sugere que deve acendê-la como vela de Chanucá. Afinal, não há lei ordenando que se venda algo ou se tome empréstimo para comprar velas para Shabat. Mas a Lei Judaica dita que em tal situação, deve-se usar a vela para o Shabat e não para Chanucá. Por que seria?
Maimônides explica: “A vela de Shabat tem prioridade porque simboliza Shalom Bait – a paz no lar. E a paz é de suma importância porque toda a Torá nos foi dada para trazer paz ao mundo”.
Chanucá comemora uma das maiores vitórias militares na História Judaica. Até hoje, os Macabeus simbolizam a bravura e a coragem do Povo Judeu. Não fossem os Macabeus, o Judaísmo e, por conseguinte, o Povo Judeu, teriam desaparecido da face da Terra. No entanto, a Lei Judaica determina que se tivermos apenas uma vela às vésperas do Shabat durante a festa de Chanucá, devemos usá-la como vela de Shabat – não de Chanucá. A precedência para o Shabat se deve ao fato de que nem mesmo a maior vitória militar é mais importante do que a paz no lar.
Os antigos gregos foram grandes guerreiros, conquistadores e governantes, mas sua civilização foi extinta. Como o Povo Judeu pôde sobreviver a eles? Entre outras, pelo fato de os judeus darem mais valor a seu lar do que ao campo de batalha. A paz no lar importava muito mais a nossos ancestrais do que as vitórias militares.
Ao celebrarmos Chanucá e comemorarmos os triunfos militares e atos de bravura e heroísmo do Povo Judeu – sejam os dos Macabeus ou dos valorosos soldados do Estado de Israel –, não podemos esquecer que a vitória suprema é vencida não no campo de batalha, mas em nossos lares e em nossas comunidades. O Povo Judeu é singular porque valoriza a vida, o casamento, os filhos e o lar – mais do que as grandes vitórias militares.
Os judeus comprovaram ser capazes de produzir os melhores guerreiros do mundo. Os Macabeus foram soldados determinados e destemidos que, com a ajuda de D’us, venceram uma superpotência militar. Hoje, o Estado de Israel tem as forças armadas mais bem treinadas no mundo. País algum, nem mesmo os Estados Unidos ou a Rússia, tem pilotos, forças especiais, tecnologia militar e serviços de inteligência melhores do que os de Israel. O Estado Judeu não tem outra opção – tem que ser uma superpotência militar, pois se o Holocausto nos deixou alguma lição, esta foi que nós, judeus, temos que nos defender sozinhos. Nosso desejo, no entanto, é formar eruditos e cientistas, não soldados. Contrariamente aos antigos gregos, preferimos viver para nossos filhos e netos do que ter uma morte heroica no campo de batalha.
Há vezes em que a luz da guerra é necessária, como na história de Chanucá e na do Estado de Israel. Mas, quando há opção, a luz da paz é preferível.
6º dia - O terceiro milagre de Chanucá
A festa de Chanucá celebra dois milagres: a vitória militar dos Macabeus e o suprimento de azeite para um único dia ter durado oito. Mas houve um terceiro milagre. Poucos o conhecem. Ocorreu séculos mais tarde.
Após a destruição do segundo Templo Sagrado de Jerusalém, muitos rabinos julgavam que a festa de Chanucá deveria ser abolida. Argumentavam que como Chanucá celebra a reinauguração do segundo Templo Sagrado, deixara de existir uma razão para seguir celebrando-a – já que o Templo havia sido destruído por Roma.
Conta-nos o Talmud que em uma cidade, Lod, Chanucá chegou mesmo a ser abolida. No entanto, o Povo Judeu decidiu que, apesar da destruição do segundo Templo, continuariam a celebrar a festividade. Esse foi o terceiro milagre de Chanucá: a decisão de continuar a celebração apesar da ausência do Beit HaMikdash, o Templo Sagrado.
E por que tomaram essa decisão? Porque, apesar de ter caído a “Morada de nossa Vida”, a esperança judaica continuava de pé. Podíamos ter perdido o Beit HaMikdash – a Morada Divina na Terra –, mas os romanos não nos tinham tirado a lembrança, a esperança e a luz de Chanucá e tudo o que simboliza. Tinha sido destruída uma gloriosa estrutura física, mas seu espírito continuou a viver dentro de cada um dos judeus e dentro de cada uma de nossas sinagogas – que são um Mikdash Me’at – um pequeno Templo Sagrado. Continuamos a celebrar Chanucá 2.000 anos depois do segundo Templo ter sido destruído, porque sabemos que um dia o terceiro Templo Sagrado será construído. Sempre acreditamos que os milagres dos dias dos Macabeus poderiam voltar a acontecer – e de que acontecerão, de fato. As palavras Od Lo Avdá Tikvatenu, “nossa esperança não está perdida”, reverberaram, sem parar, na alma coletiva dos Filhos de Israel nos últimos 2.000 anos: tornaram-se parte do Hino Nacional do Estado de Israel, o Hatikvá (A Esperança), que inspirou o Povo Judeu a voltar ao seu Lar e à sua capital eterna, Jerusalém, onde um dia brilhou majestoso o Templo Sagrado.
Ao acendermos as luzes de Chanucá, devemos lembrar-nos que, apesar da queda do Templo Sagrado e de toda a destruição que nosso povo vivenciou, o Povo Judeu manteve viva a sua esperança, e essa esperança nos manteve vivos como povo. Nunca se deve duvidar do poder da esperança. Ela é mais potente e duradoura que grandes impérios e exércitos. A luz da esperança preservou e sustentou nosso povo mesmo em seus momentos mais difíceis. As luzes de Chanucá despertam o coração e a alma de tantas pessoas porque nos ensinam a nunca perder a esperança.
7º dia - Constante crescimento espiritual
Na primeira noite de Chanucá, acendemos um jarro de azeite ou uma vela. Na segunda, acendemos duas, e na terceira, três. Somente na oitava e última noite de Chanucá acendemos todas as luzes da Chanuquiá. Essa progressão nos ensina que o que importa na vida não é nosso ponto de partida, mas nosso progresso. O que D’us espera de cada um de nós é que cada dia consigamos dar um passo à frente: que possamos produzir mais luz hoje do que ontem e que amanhã possamos brilhar mais intensamente do que hoje.
Ninguém se torna um sábio ou um gigante espiritual da noite para o dia. Isso exige muitos anos de estudo, prática e auto-refinamento. O processo é longo e árduo. Tornar-se mestre em Torá e – ainda mais difícil – tornar-se mestre de si mesmo, requer um empenho e uma bravura enormes. Mas, se avançarmos constantemente – se brilharmos, dia após dia, um pouco mais intensamente –, poderemos atingir alturas inconcebíveis. E para isso basta coragem e determinação de dar o primeiro passo e continuar crescendo. Basta acender uma vela hoje e uma vela adicional amanhã.
Temos que nos empenhar para constantemente subir a Escada de nosso patriarca Jacob, que toca a Terra e alcança os Céus. Não importa quantos atos de bondade um ser humano praticou; não importa quanto da Sabedoria Divina aprendeu e nem quantos atos sagrados e generosos praticou. Ele nunca deve estar satisfeito com suas realizações. Ainda que hoje tenha praticado muitos atos de bondade, amanhã terá que praticar ainda muitos atos mais.
8º dia - Chanucá e a Guerra Mundial Final
Muitas pessoas estão esperando por uma guerra mundial final. Estão convencidos de que o fim do mundo está próximo e temem pelo que o futuro possa trazer. De fato, os Profetas falaram de uma guerra apocalíptica que precederá a vinda do Mashiach. Mas essa guerra final não será travada nos campos de batalha, nem no mar e tampouco nos céus. Não se usarão armamentos avançados ou bombas nucleares. Não será uma guerra entre líderes nem entre nações.
A guerra final que precederá a Era Messiânica será travada no coração de cada pessoa, com os exércitos de seus atos neste mundo. A Guerra Final é a reencenação da batalha espiritual de Chanucá – a batalha da luz contra a escuridão. E nós todos seremos forçados a participar dessa guerra final. Na verdade, quer o saibamos ou não, já a estamos travando. O resultado dessa guerra determinará o destino do mundo, e isso está nas mãos de cada um de nós. Mas não devemos temer seu resultado: D’us nos assegurou por meio de seus Profetas que nós havemos de prevalecer. Venceremos a guerra mundial final. A paz advirá, a escuridão será banida para sempre e a Luz Divina, simbolizada pelas luzes de Chanucá, preencherá o mundo inteiro. Que D’us nos ajude a vencer essa guerra o mais breve possível. Amén, Ken Yehi Ratson.

Padre "destrói" Silas Malafaia