segunda-feira, 26 de março de 2018

Hagadá de Pessach - Chabad

Hagadá de Pessach em PDF

O Que é Um Seder?

O Que é Um Seder?

Uma visão geral dos passos do Seder

O Que é Um Seder?

O seder é uma maratona festiva que inclui ler, beber vinho, contar histórias, comer alimentos especiais e cantar.

Quando é Pêssach?

É realizado após o anoitecer na primeira noite de Pêssach (e também na segunda noite se você mora fora de Israel), e celebra o aniversário do êxodo milagroso e a liberdade de nossa nação da escravidão egípcia há mais de 3.000 anos. Os Sedarim este ano serão realizados nos dias 10 e 11 de abril, 2017.

O que há no menu?

Durante o desenrolar da noite você terá:
  • Quatro copos de vinho.
  • legumes mergulhados em água salgada.
  • matsá
  • ervas amargas, como alface romana, mergulhada em charosset (uma pasta de nozes, maçãs, peras e vinho).
  • uma refeição festiva que pode conter sopa de frango e guefilte fish.
Cada item tem seu lugar em uma combinação de 15 passos coreografados por sabores, sons, sensações e aromas que estiveram com o Povo Judeu por milênios.

O que usamos?

  • Os alimentos cerimoniais são todos dispostos em um prato especial contendo seis cavidades, chamado keará.
  • O procedimento é apresentado em um livro especial, a Hagadá. Embora o texto esteja em hebraico (com uma pitada de aramaico), é perfeitamente aceitável ler a Hagadá com a tradução em seu idioma, caso você não entenda hebraico.

Uma nota dos sábios

No seder, cada pessoa deve se sentir como se ele ou ela estivesse saindo do Egito. Começamos com a história de nossos patriarcas, Avraham, Yitschac e Yaacov e contamos a descida do povo judeu ao Egito, lembrando seu sofrimento e perseguição. Revivemos as dez pragas enviadas por D’us para punir o faraó e sua nação, sua perseguição aos judeus ao sairem do Egito até atravessar o mar de juncos. Nós testemunhamos a mão milagrosa de D'us ao separar as águas em duas paredes, permitindo que os israelitas passassem, e depois retornássem ao seu curso normal afogando as legiões egípcias.
À medida que comemos alimentos amargos de aflição e pobreza, o Êxodo torna-se realidade - tão real quanto a refeição festiva e brindes comemorativos que se seguem.
Aqui estão os 15 passos do seder, com uma breve explicação:

1. Cadesh - A Bênção sobre o vinho

O serviço do seder começa com a recitação do Kidush, proclamando a santidade do feriado. Isto é dito segurando uma taça de vinho, o primeiro dos quatro copos que iremos beber (reclinados) ao longo do seder.

As quatro taças de vinho

Por que quatro copos? A Torá usa quatro expressões de liberdade em conexão com a nossa libertação do Egito. 1 Alguns ligam-nos aos quatro grandes méritos que os filhos de Israel tinham no exílio: (1) Eles não mudaram seus nomes hebraicos; (2) eles continuaram a falar sua própria língua, o hebraico; (3) Eles permaneceram altamente morais; (4) Permaneceram leais uns aos outros. O vinho é usado porque é um símbolo da alegria e felicidade.

Por que Reclinamos

Ao beber os quatro copos e comer a matsá, nos apoiamos em nosso lado esquerdo para acentuar o fato de que somos pessoas livres. Antigamente, apenas as pessoas livres tinham o luxo de se reclinar enquanto comiam.

2. Urchatz-Lavagem

Lavamos as mãos da maneira habitual, ritualmente prescrita, como é feito antes de uma refeição, mas sem a bênção habitual.
O próximo passo no seder, carpás, requer mergulhar um alimento na água com sal. A lei judaica especifica que certos alimentos úmidos sejam comidos com um utensílio ou que as mãos sejam purificadas primeiro por lavagem. Na véspera do seder, escolhemos a observância menos comum (mas mais ideal) para despertar a curiosidade de nossos filhos.

3. Carpás - o "Aperitivo"

Um pequeno pedaço de vegetal (uma cebola ou batata cozida conforme a tradição Chabad) é mergulhado em água salgada e ingerido após recitar a bênção sobre legumes, hadamá.
Mergulhar o carpás em água salgada (depois de ter lavado nossas mãos) é parte de uma série de atos destinados a despertar a curiosidade das crianças.
A palavra hebraica carpás, quando lida de trás para frente, alude ao trabalho escravo realizado pelos 600.000 judeus no Egito. (A última letra, samech, tem o equivalente numérico de 60, representando 60 vezes 10.000, enquanto as restantes três letras hebraicas soletram perech, "trabalho duro".)

4. Yachats-Quebrando a Matsá

A matsá do meio usada no seder é quebrada em dois. A parte menor da matsá é colocada de volta. Esta matsá do meio quebrada, o "pão da pobreza", permanece visível quando contamos a história do Êxodo e será ingerida pouco depois. A parte maior é posta de lado para uso posterior como afikoman (ver etapa 12). Essa ação incomum de quebrar a matsá não só atrai mais uma vez a atenção das crianças, mas também lembra a divisão do mar de juncos por D’us, para permitir que os filhos de Israel atravessassem em terra seca.

5. Maguid— A Hagadá

Neste ponto, os pobres são convidados a participarem do seder. A keará do Seder é afastada, uma segunda taça de vinho é enchida e as crianças, neste ponto muito curiosas, cantam a clássica canção do seder, entoada especialmente por elas:
"Má nishtaná ha-laila hazé, mikol ha-leilót?” Por que esta noite é diferente de todas as outras noites? "Por que apenas matsá? Por que essa noite mergulhamos um alimento? Por que as ervas amargas? Por que nessa noite sentamos reclinando como se fossemos reis?
Os questionamentos das crianças desencadeiam um dos elementos mais significativos de Pêssach, que é o destaque da cerimônia do seder: a leitura da Hagadá, que conta a história do Êxodo do Egito. A resposta inclui uma breve revisão histórica, um narrativa de como Avraham rejeitou a idolatria e realizou um pacto com D’us, uma descrição do sofrimento imputado sobre os israelitas, uma lista das pragas impostas por D’us aos egípcios e uma enumeração dos milagres realizados pelo Todo-Poderoso ao redimir Seu povo. Concluímos agradecendo a D'us por ter nos libertado do Egito e uma prece pela Redenção Final.

6. Rachtsá—Lavagem das mãos antes da refeição

Após concluir a primeira parte da Hagadá bebendo o segundo copo de vinho (enquanto reclinados), as mãos são lavadas novamente, desta vez com as bênçãos que costumamos recitar antes de comer pão (matsá).

7-8. Motsi Matsá—Comer a matsá

Segurando as três matsot (com a quebrada entre as duas inteiras), recita-se a bênção habitual antes do pão, (matsá). Então, deixando a matsá de baixo cair de volta na keará, e segurando a matsá inteira do topo com a meia quebrada, recita-se a bênção especial "al achilat matsá". Em seguida, quebra-se um pouco da matsá superior e um pedaço da matsá do meio, e come-se as duas juntas enquanto reclinados.

9. Maror—As ervas amargas

Pegue um punhado de ervas amargas. Mergulhe no charosset, sacuda um pouco e fale a bênção “al achilat maror.” Coma sem reclinar-se.

10. Korech—O sanduiche de Hillel

De acordo com a prática de Hillel, o grande sábio talmúdico, um sanduíche de matsá e maror é ingerido no seder. Quebre dois pedaços da matsá de baixo. Novamente, pegue um punhado de ervas amargas e mergulhe no charosset, sacudindo um pouco. Coloque no centro, entre os dois pedaços de matsá, e diga "kein asá Hillel ...", “Assim fez Hillel” e coma o sanduíche, enquanto reclinado.

11. Shulchan Orech—A refeição

A refeição é servida agora. Começamos comendo um ovo cozido mergulhado em água salgada. Tradicionalmente associado com luto, o ovo nos lembra que em nossa refeição falta o cordeiro sacrificial.
Nota: O zeroa (pescoço de galinha queimado colocado na keara), não é comido no Seder.

12. Tsafun—Afikoman, pedaço da matsá separada

Após a refeição, o pedaço da matsá do meio que foi separada e “escondida” para afikoman, “sobremesa” é retirada e ingerida. Ela simboliza o cordeiro pascal que nossos antepassados comeram ao final de seu seder de Pêssach. Todos devem comer o afikoman reclinados, antes da meia-noite. Após comer o afikoman não comemos nem bebemos nada, exceto os dois copos restantes de vinho.

13. Berach—Bênçãos Após a refeição

Um terceiro copo de vinho é enchido e a Prece Após a Refeiçnao (Bircat Hamazon) é pronunciada. Então recitamos a bênçnao sobre o vinho e bebedos o terceiro copo reclinados.
Agora enchemos o copo de Eliahu Hanavi, o Profeta Elias, e nosso quarto copo de vinho. Abrimos a porta da entrada de nossa casa e recitamos a passagem convidando o Profeta Elyiahu, que anunciará a chegada de Mashiach, nosso justo Messias.

14. Halel—Cânticos de Louvor

Nesse ponto, tendo reconhecido o Todo-Poderoso e Sua proteçnao e orientação ao povo judeu, cantamos louvores enaltecendo o Senhor do Universo. Após recitar o Halel, recitamos novamente a bênção sobre o vinho e bebemos o quarto e último copo do seder, reclinados.

15. Nirtsá—Aceitação

Tendo realizado o serviço do seder e realizado o mesmo corretamente, temos a certeza de que ele foi bem recebido pelo Todo-Poderoso. Então pronunciamos: "Leshaná haba'á b'Yerushalayim-!”, “No Próximo ano em Jerusalém!"
NOTAS
1.
Veja Êxodo 6:6-7.

A Keará

A Keará

O prato tradicional do Sêder, e seus seis componentes

Introdução à Travessa do Seder

Preparar os itens para a Travessa do Seder demanda algum tempo. É melhor preparar toda a comida do seder antes do início do feriado, para evitar questões haláchicas.
Três matsot são colocadas em cima de cada uma numa travessa ou guardanapo, e então cobertas. (alguns têm o costume de separar as matsot umas das outras com travessas intercaladas, guardanapos, ou outros.)
As matsot simbolizam as três castas de judeus: sacerdotes, levitas e israelitas. Também comemoram as três medidas de farinha fina que Avraham disse a Sarah para assar como matsá quando foram visitados pelos três anjos (Bereshit 18:6).
Num pano ou prato colocado acima das três matsot, colocamos os seguintes itens:
  1. Betsá - Ovo
  2. Zerôa - Osso
  3. Maror - Ervas Amargas
  4. Carpás - Vegetal
  5. Charosset - A Mistura
  6. Chazeret - Ervas Amargas
Os alimentos especiais que comemos em Pêssach também são comida para reflexão. Cada item na travessa do Seder está repleto de significado e alusão. Clique nos links acima para descrições de cada um dos alimentos, o motivo por que está incluído, o método de preparar e seu papel na refeição do Seder.

Transformando Imperfeições

Transformando Imperfeições

Em inner.org
Traduzido por Maurício Klajnberg
Pêssach – A Festa da Liberdade – nos lembra do grande evento histórico que tão firmemente nos uniu a D’us, o Criador do Céu e da Terra. A liberdade da escravidão no Egito, enviada pelo Céu, foi um preâmbulo e preparação para o próximo grande evento, o maior na história judaica, e na história de toda a humanidade – A Outorga da Torá no Monte Sinai, sete semanas depois.
A Torá tornou-se o elo que nos liga a D’us, portanto nosso povo judeu, a Torá e D’us estão inseparavelmente unidos em um só. Mas a celebração do Êxodo (saída) do Egito não está limitada apenas aos oito dias de Pêssach, que celebramos somente uma vez por ano. Somos ordenados na Torá: “Lembra do dia de tua partida do Egito todos os dias da tua vida!” Assim, é uma questão de importância diária para cada um de nós lembrar da nossa liberdade da escravidão. Como nos diz a Hagadá que “todos os dias de tua vida”, incluem também as noites. Dia e noite, portanto, cada um de nós deve se lembrar da “partida do Egito”. Este é um dos motivos pelos quais a terceira porção do Shemá está incluída em nossas preces matinais e noturnas, pois conclui com as palavras: “Eu sou D’us, que te tirou da terra do Egito, para ser teu D’us; Eu sou D’us, o teu D’us.”
Na verdade, mencionamos este grande evento incontáveis vezes. Recitamos a Canção de Moshê na Travessia do Mar Vermelho toda manhã. No Kidush de Shabat e Yom Tov dizemos: “Um memorial da saída do Egito.” Muitas e muitas vezes, de uma maneira ou de outra, o assunto de Yetzias Mitsraim (Êxodo do Egito) ocupa um lugar importante em nossas preces e observâncias diárias das mitsvot.
A ênfase para nós está na ideia de “tua partida”, que equivale a dizer; não é apenas uma celebração de um evento nacional para todo o nosso povo em conjunto, mas é também um evento individual, para todo e cada judeu separadamenteO potencial de todo judeu é o de expressar a Divindade. Para palavra hebraica para Egito, Mitzrayim, significa “limitações”. Limitação é a incapacidade de alguém se expressar plenamente. No Egito, o povo judeu estava limitado e não podiam expressar plenamente a Divindade. A redenção das limitações do Egito é o poder Divino e o milagre da festa de Pessach.

O Salto Compassivo

De acordo com o grande comentarista bíblico, Rashi, a palavra em Hebraico para “Páscoa”, Pessach (pei, samech, chet) tem dois significados:
  1. Saltar ou pular sobre – D’us saltou sobre as casas dos judeus no Egito durante a morte dos primogênitos do Egito.
  2. Compaixão – este salto foi uma grande expressão da compaixão de D’us para com o povo judeu.
Na Torá a palavra que é usada para uma pessoa aleijada (que salta ou pula) é pisayach. Esta palavra compartilha uma raiz com Pessach e é a fonte da explicação de Rashi de que Pessach significa “saltar’. O saltar de uma pessoa aleijada é considerado uma imperfeição e impede a um Cohen de servir no Templo Sagrado. Da mesma forma, um animal que é pisayach é considerado imperfeito e indigno de ser trazido como um sacrifício no Templo.

O Poder Transformativo de Pessach

A bela imagem da futura redenção está escrita em Isaías 35:6: “Naquele momento (quando Mashiach chegar) o aleijado saltará com um cordeiro”.
Em realidade, frequentemente observamos ou experimentamos coisas que parecem más. A beleza da criação está na Torá, que nos dá o poder para transformarmos mal em bem. Pessach tem este poder de transformação. Ele pode transformar a incapacidade física em um verdadeiro e belo saltar com liberdade. A visão do homem aleijado saltando como um cordeiro é uma imagem muito importante para se ter em mente em Pessach.

O Salto Futuro

No Egito, D’us saltou sobre as casas dos judeus.
No Cântico dos Cânticos (2:8), entretanto, encontramos um diferente tipo de salto. “A voz de meu amado está se aproximando; ela salta sobre as montanhas e pula sobre as colinas”.
De acordo com nossos Sábios, as montanhas representam os Patriarcas, enquanto as colinas representam as Matriarcas. Pelo mérito e poder dos Patriarcas e Matriarcas, D’us salta sobre as montanhas e colinas e para dentro de nossos corações para nos trazer Sua revelação.

A Chave Para Penetrar No Coração

As limitações do Egito são barreiras psicológicas que não podem ser penetradas. Estas barreiras psicológicas, que existem em algum nível em toda a humanidade, nos deixam incapacitados. A palavra hebraica para “compaixão”, chemlá (chet, mem, lamed, hei), é uma permutação da palavra hebraica para “doença”, machalá (mem, chet, lamed, hei). Quando nos conectamos com o outro com compaixão, o que é ainda mais profundo que abraçar com amor, nós o redimimos de suas barreiras psicológicas. Este estado doentio de incapacidade é então transformado ao saltar Messiânico do cordeiro.
A energia transformativa de Pessach é o poder para rompermos todas as barreiras psicológicas e, com compaixão em nossos corações, pular todo o caminho em direção dos corações de D’us, nosso cônjuge, família e amigos.

Transformando Imperfeições Em Milagres

A imperfeição que se justapõe consistentemente (6 vezes) com a incapacitação na Torá é a cegueira. Estas duas condições são interdependentes. O valor numérico de “aleijado”, pisayach, é 148. O valor numérico de “cego”, iver, é 276. Juntos, eles totalizam 424, que é o valor numérico de Mashiach ben David, Messias o filho de David.
Mashiach inicialmente tem as duas abrangentes imperfeições de incapacidade física e cegueira. Adicionalmente, ele é descrito na Torá como um leproso. Lepra é uma doença da pele. Em Hebraico, a palavra para “pele” é or (ayin, vav, reish) cuja soletração é idêntica à palavra para “cego”, iver. Isto é uma alusão à “pele” virtual que cobre os olhos do cego impedindo que ele veja. A redenção depende da remoção da barreira sobre nossos olhos para revelar os milagres ao nosso redor. No momento de sua chegada, Mashiach, com a ajuda de D’us, será redimido e transformará suas imperfeições nos milagres da redenção final.

Pessach: A Revelação de Maravilhas Divinas

No livro de Micá 7:15, D’us nos promete “Mais do que nos dias da redenção do Egito, Eu vos mostrarei maravilhas Divinas”. O poder de Pessach é o potencial para transformar nossas limitações em maravilhas Divinas. Que possamos merecer nos relacionarmos aos outros com verdadeira compaixão. Pelo mérito de nossa compaixão, possa D’us ter compaixão conosco e transformar nossa incapacidade e cegueira ao pular do cordeiro e à abertura de nossos olhos para revelar as maravilhas da chegada de Mashiach.

Quatro Perguntas Para o Corpo e Para a Alma

Quatro Perguntas Para o Corpo e Para a Alma

Caro Rabino Jacobson
Gostaria de informá-lo que compareci a um Seder de Pêssach pela primeira vez em minha vida no ano passado, como resultado de sua palestra no National Arts Club, A Alma do Seder: 15 passos para a Liberdade Pessoal.
Um amigo insistiu para que eu fosse à palestra e francamente, fui resmungando, completamente cético sobre qualquer apresentação religiosa. Mas para seu crédito eu tive, contra a minha inclinação, uma experiência iluminadora e inspiradora, que me motivou a comparecer a um Seder.
Eu nunca tinha imaginado que o Seder tinha uma estrutura tão rica, profunda e espiritual. Portanto agora, ao nos aproximarmos de Pêssach, eu gostaria de desafiar você e outros a ajudar a mim e a outros a ter o melhor da experiência do Seder. Que estado de espírito se deve ter no Seder? Como ligamos os rituais tradicionais – comer matsá, maror e beber os quatro copos de vinho – com sua contrapartida espiritual?
Agradeço por abrir o mundo interior da tradição judaica para mim e tantos outros.
[assinatura]
Resposta:
Nenhum corpo pode funcionar sem uma alma. O corpo do Seder de Pêssach é bem conhecido e documentado. Nós juntamos uma travessa de Seder, passamos por quinze etapas, comemos matsá e maror (ervas amargas), tomamos quatro copos de vinho, recitamos a Hagadá, fazemos e respondemos perguntas. Mas qual é a alma de todas essas atividades?
O objetivo de todo o Seder de Pêssach e do feriado é atingir uma coisa: Trancendência.
“Mitzrayim” (Egito, em hebraico) significa fronteiras, restrições e limitações. O Êxodo de Mitzrayim é liberdade da escravidão aos nossos temores, inibições e vícios. Como podemos usar os rituais do Seder como ferramentas para atingir transcendência pessoal; sentir liberdade emocional e espiritual? Para isso é preciso preparação e pensamento – criar o clima para toda a experiência do Seder.
A Hagadá inteira é estruturada na forma de pergunta e resposta: as crianças começam fazendo as quatro perguntas, e os adultos respondem contando a elas a história em todos os seus detalhes. Na verdade, a palavra Hagadá” significa “relatar”, contar a história.
Perguntas e respostas são uma das mais poderosas ferramentas que temos para explorar e testar, para descobrir a verdadeira natureza das coisas. Muitas vezes a pergunta certa é até mais importante que a resposta.
“A pergunta inteligente” – aprendemos – “é metade da resposta”.
Portanto fazer as perguntas certas é fundamental para acessar a poderosa experiência do Seder e ter realmente uma experiência única nesta noite, que é “diferente de todas as outras noites do ano”. Como baldes que nos permitem extrair combustível precioso profundamente embebido no solo, boas perguntas nos ajudam a mergulhar em nossa psique e nossas tradições, e extrair experiências que transformam a vida.
Nesse espírito, aqui eis uma sugestão de algumas perguntas para fazer a si mesmo antes e durante o Seder para ajudar você a acessar os ricos recursos da noite do Seder.
As quatro perguntas feitas no Seder captam os ingredientes básicos que distinguem a noite de Pêssach de todas as outras noites do ano. Essas quatro perguntas têm um corpo e uma alma.
O corpo das perguntas:
“Por que essa noite é diferente de todas as outras?”
  1. "Em todas as noites não precisamos molhar (dip) nem uma vez, nessa noite fazemos isso duas vezes.”
  2. "Em todas as noites comemos chametz (fermento) ou matsá, nessa noite comemos apenas matsá.”
  3. “Em todas as noites comemos qualquer tipo de vegetais, nessa noite maror (ervas amargas).”
  4. “Em todas as noites comemos sentados eretos ou reclinados, nessa noite todos nos reclinamos.”
    (Essa ordem das perguntas é baseada na ordem do Arizal e com a qual cresci. Há outras ordens igualmente legítimas).
Esses quatro elementos – Mergulhar/Molhar, Matsá, Maror, Reclinar – representam quatro perguntas fundamentais da alma que cada um de nós deve fazer a si mesmo.
Mergulhar é a sublimação de nossas vidas materiais (simbolizado pelo vegetal, o “fruto da terra” para fins espirituais. Como a imersão num micve (um banho ritual), quando submergimos nossos corpos num estado de ser mais elevado.
Matsá é o “alimento” da humildade.
Maror é empatia.
Reclinar é simbólico de conforto e liberdade. Em vez da severidade de sentar ereto, relaxamos.
A alma das quatro perguntas nos compele a fazer as quatro perguntas seguintes:
  1. Vejo o materialismo como um fim em si mesmo, ou “mergulhado” – como um meio para metas espirituais?
  2. Eu tenho humildade?
  3. Tenho empatia e compaixão?
  4. Estou à vontade comigo mesmo?
Obviamente, cada uma dessas perguntas é apenas um cabeçalho para uma série de questões mais abrangentes que avaliam nossas psiques, e nos ajuda a reconhecer o que nos mantém escravizados e o que precisamos para sentir transcendência.
1 – Molhar – Avaliação do equilíbrio entre as dimensões materiais e espirituais da sua vida.
  • Valorizo a importância de “molhar”?
  • Quais são minhas metas espirituais?
  • Uso meu trabalho ou outras atividades físicas como uma pedra fundamental para objetivos mais altos?
  • Como mantenho esse “mergulhar” o ano inteiro? Por exemplo: Doar diariamente para caridade.
  • Por que é difícil para mim elevar minhas necessidades corporais e gratificação instantânea?
2 – Matsá – Avaliação de seu ego VS. sua humildade e modéstia.
  • Eu entendo a importância da humildade?
  • Valorizo aquele que é o elemento mais importante em me libertar de qualquer medo e resistência emocional?
  • Existem algumas áreas em minha vida onde me sinto mais humilde? Por quê? E quais áreas precisam de trabalho especial para domar o meu ego?
  • Qual é a raiz da minha arrogância? É devida às minhas forças ou às minhas fraquezas?
  • A minha arrogância é como uma cortina de fumaça para a minha insegurança?
3 – Maror – Avaliação de seu nível de empatia e compaixão
  • O quanto sou empático com os outros e comigo mesmo?
  • Minha compaixão vem com “cordões”, i.e., meu próprio ganho pessoal?
  • Quando foi a última vez que partilhei lágrimas pelo sofrimento de outro?
  • Eu entendo que a empatia se iguala à sensibilidade – a própria essência de estar vivo? Que quando não tenho compaixão por estranhos, isso também impacta a bondade que mostro para mim mesmo e aos entes próximos?
4 – Reclinar – Avaliação de sua autoestima.
  • Por que não estou sempre à vontade na minha própria pele?
  • Há tempos e situações quando atinjo uma calma profunda? Quando estou seguro comigo mesmo?
  • Caso seja sim, entendo o que traz aquele nível de tranquilidade? E posso acessá-lo quando quiser?
  • Meus amigos estão aumentando minha tensão ou minha paz de espírito? Eu me coloco em situações que alimentam minha insegurança?
  • Posso nessa noite me encostar e reclinar, sabendo que coloco minha confiança em D'us?
As perguntas continuam. Essas são apenas uma amostra de perguntas – um catalisador – que cada um de nós usa para aumentar nossa experiência do Seder. Permita-se perguntar a nós mesmos quão poucas ou muitas questões que ajudam você a personificar o Seder de Pêssach.
Lembre-se, mesmo se você não pode responder a todas essas perguntas ou respondê-las satisfatoriamente, o simples fato de se permitir entrar na arena da sua alma e suas emoções já é o primeiro passo da liberdade.  Lembre-se também que toda experiência é apenas tão poderosa quanto sua preparação para ela. Por este motivo começamos as preparações formais para Pêssach (e todas as festas) trinta dias antes. Começamos a estudar suas leis, e acima de tudo – a nos preparar espiritualmente para a experiência especial que nos espera.
Portanto, pode ser inteligente se preparar para o Seder com o seguinte exercício:
Antes de Pêssach começar pegue um pedaço de papel e anote:
  1. Três inibições (chametz; mitzrayim) que você gostaria de se livrar. Assegure que são três impedimentos ou temores, não pessoas ou situações fora de si mesmo (como um parente intolerável ou um chefe infernal).
  2. Quatro aspirações e sonhos que gostaria de realizar. Quatro áreas (como os quatro copos de vinho) nos quais gostaria de celebrar a liberdade. Não focar muito nos meios (como ganhar muito dinheiro), mas nos fins.
  3. Três áreas nas quais você é egoísta, e três (como as três matsot) nas quais tem uma dose especial de humildade.
À medida que desfruta o Seder, bebendo os copos de vinho e comendo matsot e maror, pense sobre essas listas.
Que sejamos todos abençoados com um Pêssach significativo e transcendente – que nos permita “passar sobre” nossos temores e limites (percebidos ou reais) e sentir a verdadeira, doce e duradoura liberdade.
Devemos sempre saber que o supremo segredo para a verdadeira emancipação está na nossa sublimação, humildade, empatia e auto-respeito – todos possíveis quando reconhecemos que não somos criaturas auto construídas, mas parte de uma realidade mais elevada, como é declarado eloquentemente no primeiro – a fundação – dos Dez Mandamentos: “Eu sou o teu D'us que te libertou da escravidão do Egito.”
Um Pêssach feliz para você e a todos os seus!

domingo, 18 de março de 2018

O Mês de Nissan

O Mês de Nissan

Nissan é o primeiro dos doze meses do calendário judaico.
O primeiro mandamento dado à recém-nascida nação de Israel antes do Êxodo do Egito foi:
"Este mês [Nissan] será para vós o primeiro dos meses" (Shemot 12:2)
Nissan começa, especificamente, o "período" (tekufá) da primavera. Os três meses desta tekufá – Nissan, Iyar, Sivan – correspondem às três tribos do acampamento de Yehuda – Yehuda, Issachar, Zebulun – que se situavam a leste). Na Torá, Nissan é chamado de "mês da primavera" (chodesh ha'aviv).
Além disso, Nissan dá início aos seis meses de verão, que correspondem aos seis níveis de "luz direta" (no Divino serviço – "despertar do acima"). Há uma alusão a isso no nome aviv, que começa com as duas letras alef e beit, na ordem "direta" ou "reta" do alef-beit.
Refere-se a Nissan como "o mês da redenção". Segundo a opinião aceita de Nossos Sábios: "Em Nissan nossos antepassados foram redimidos do Egito e em Nissan seremos redimidos" (Tratado Rosh Hashaná 11a).
Nissan é um mês de milagres (nissim). O fato de o nome Nissan possuir dois nuns sugere, segundo Nossos Sábios, nissei nissim – "milagres dos milagres." Sobre a redenção do futuro é declarado: "Como os dias de vosso êxodo do Egito, Eu revelarei a ele maravilhas." Na Chassidut, este versículo é explicado como significando que as maravilhas da redenção do futuro serão assombrosas e miraculosas, equivalentes aos milagres do Êxodo do Egito – "milagres dos milagres".

Letra: Hei

A letra hei é a origem fonética de todas as 22 letras do alef-beit.
Nossos Sábios ensinam que "com a letra hei, D’us criou este mundo", como é declarado no início da segunda narrativa da Criação (que corresponde ao calendário judaico, começando a partir de Nissan): "b'hibaram – b'hei bera'am." Assim, o mês de Nissan significa a renovação anual da criação deste mundo.

Mazal: Talê (Aries – carneiro)

O talê simboliza o sacrifício de Pêssach, o primeiro sacrifício do povo judeu a D’us quando da sua redenção. O próprio povo judeu é simbolizado como um cordeiro (dentre setenta lobos). De todas as criações de D’us, o cordeiro possui a inata capacidade de despertar misericórdia pela sua voz (a origem do sentido da fala do mês de Nissan).

Tribo: Yehuda

Yehuda é o rei (a "primeira") das tribos de Israel. Seu nome significa dar graças, na fala (o sentido de Nissan). O rei governa seu povo pelo poder de suas palavras, como está escrito: "pois a palavra do rei é sua lei." O mês de Nissan é "o ano novo para reis" (Mishná Rosh Hashaná 1:1).

Sentido: Fala

O sentido da fala sugere a capacidade da pessoa de expressar seus mais profundos sentimentos e opiniões ao próximo. Todas as formas de expressão são referidas genericamente como "fala". "Este mundo" (criado pela letra hei de Nissan) está baseado em comunicação (verbal). Personificando a sefirá de malchut (reino), é freqüentemente chamado de "o mundo da palavra" (ou "o mundo revelado").
O próprio radical para "fala" significa também "liderar". Assim, o sentido da fala é basicamente o sentido de liderança.
A principal mitsvá do mês de Nissan, na noite do sêder, é a narrativa da história do Êxodo "quanto mais se narra o Êxodo do Egito, mais ele é louvável." Esta é a principal mitsvá da fala de todo o ano. Dos 15 estágios do sêder (15 = a soma de todos os números de 1 a 5), maguid – a narrativa da história do Êxodo – é o 5º estágio. 5 = hei. O estágio do maguid começa com a palavra "hei" (hei lachma anya, "este é o pão do homem pobre").
A redenção do Egito (o estado existencial de "confinamento", a incapacidade de expressar realmente a si próprio – "todos os exílios são referidos como Egito") simboliza a "liberdade da fala"

Controlador: Pé Direito

Assim como "falar" significa "liderar", assim também o caminhar (com o pé direito, o pé da confiança e segurança) dirige e controla o sentido da fala da pessoa, como se diz: "andarilhos a caminho, falai" (Canção de Dvora, Juizes, 5:10). Falar palavras da Torá enquanto caminhando na trilha inspira novo entendimento rumo aos segredos da Torá. E assim, descobrimos que muitos dos segredos do sagrado Zohar foram revelados no contexto de "caminhando na trilha."

O Judeu e o Tempo

O Judeu e o Tempo

A vida consiste em luz e trevas: “E houve noite e houve manhã.”

A 1º de Nissan de 2448 (1313 AEC – duas semanas antes do Êxodo), “D’us falou a Moshê e Aharon no Egito”, instruindo-os sobre o estabelecimento do Calendário Judaico e que “este mês será para vós o cabeça dos meses, o primeiro mês do ano” (Shemot 12:1-2); esta foi a primeira mitsvá dada ao povo de Israel. Naquela ocasião D’us também ordenou-lhes sobre a oferenda de Pêssach e as várias observâncias da Festa de Pêssach.
As ideias mais importantes da religião judaica, embora sejam intangíveis, tornam-se acessíveis por estarem incrustadas no tempo. São celebradas em dias específicos num ciclo anual de festejos e jejum, ancoradas no espaço – por substâncias palpáveis como uma cabana, matsá ou velas.
Tudo aquilo que pode ser feito a qualquer hora por qualquer pessoa será feito em pouco tempo por ninguém. O Judaísmo preserva os exaltados princípios e os eventos cataclísmicos de sua história por meio de um sistema de práticas estruturado, bem definido e especificamente programado: o calendário judaico.

Os Anos

Os povos antigos começavam uma nova contagem de anos no calendário com o reinado de cada novo monarca. Quando o Cristianismo começou a dominar o mundo ocidental, começou a datar a história a partir do nascimento de seu próprio “rei”, e depois segundo o calendário gregoriano. A partir de então, a história foi dividida em AC e DC, antes do advento do nascimento do rei e no “ano do senhor”. O Judaísmo não podia consentir em dividir a história por essas linhas; não divide a história universal nem sequer para fazer um ponto de apoio no nascimento de Avraham ou Moshê. Portanto, o calendário religioso judaico jamais foi orientado dessa maneira.
Durante muitos séculos, os judeus contaram os anos a partir de um evento – o início de sua existência como um povo – o Êxodo do Egito. Após a destruição do Templo em 70 EC, aquele evento cataclísmico durante algum tempo substituiu o uso do Êxodo como data inaugural.
Porém, o senso do judeu a esse respeito, que viria a se expressar somente depois de séculos, era que nem mesmo um evento dessa magnitude era suficientemente importante para traçar uma linha através do tempo e para recomeçar a contar a história do mundo.
Somente uma ocorrência poderia servir como um início para a história: o início da história. O Judaísmo determinou a contagem dos anos do calendário numa escala universal – a partir da Criação do universo. Mas qual é a idade exata do universo?
Até os cientistas, com sua instrumentação exata e avançada, estão certos somente de uma resposta: que sobre isso não pode haver exatidão. O único método para os Sábios foi contar os anos segundo a narrativa literal da Criação na própria Torá.
Portanto, a data hebraica de quase 6 mil anos (estamos em 5773) implica em quase seis mil anos da soberania Divina sobre o mundo, segundo a contagem da Torá, e este é seu significado eterno.
Porém, isso apresentava um problema: os judeus eram uma minoria e, embora pudessem contar o tempo segundo sua visão, estavam vivendo num mundo no qual a esmagadora maioria diferia dessa prática. Os judeus, que residem em todos os cantos do mundo, não poderiam ignorar a maneira de o mundo contar o tempo, a base da vida diária de um ser humano. Embora o Judaísmo não seja “deste” mundo – no sentido em que se esforça para transcender este mundo – está bastante “neste” mundo, e portanto, a comunidade judaica precisava acomodar seu calendário secular ao uso global. Como resultado, foi preciso viver sua vida secular de acordo com “as nações” e a dividir a história global segundo as datas do calendário gregoriano. Porém não podia acomodar-se aos termos da divisão histórica baseada no nascimento de Cristo – AC e DC – e em vez disso referiu-se a estes como AEC, antes da era comum, e EC, a era comum.
Em termos judaicos, então, estamos vivendo em 2013 EC, o Templo foi destruído em 70 EC, os Macabeus se rebelaram em 165 AEC.
O calendário religioso judaico, no entanto, não reconhece este artefato secular, conserva seu formato universal, e continua a contar os anos numa escala universal – a partir do início da Criação. Os judeus celebram o Ano Novo religioso, Rosh Hashaná, no dia que a Torá considera o dia da Criação, segundo seu cômputo literal, o primeiro dia do mês hebraico de Tishrei, que geralmente cai no final de setembro.

Os Meses

Os judeus contam os meses pela lua; a civilizacão ocidental padroniza seu calendário pelo sol. Isso apresenta um dilema. A lua viaja mais lentamente que o sol – por cerca de 48 minutos ao dia. No início do mês lunar, a lua se põe a oeste após o pôr-do-sol, e a cada dia 40 a 45 minutos mais tarde. Continua a defasar cada vez mais atrás do sol (cada mês lunar tem 29 ½ dias) até que, ao final de 12 meses, o ano da lua é 11 dias mais curto que o ano do sol, e a cada três anos perde um mês inteiro de tempo.
Isso introduz um problema especial para o calendário religioso – Pêssach precisa ser celebrado no equinócio da primavera – a primavera e a colheita são seus marcos naturais, a ressuscitação da natureza coincidindo com a redenção do povo. Porém, se o calendário lunar perde um mês a cada três anos, Pêssach se moveria para a frente a cada ano, e cairia sucessivamente em todas as estações do ano. É exatamente isto que ocorre com a festa muçulmana do Ramadan.
Os mestres do Talmud fizeram o ajuste acrescentando sete meses bissextos (chamados “Segundo Adar”) no decorrer de cada ciclo de 19 anos, e assim engenhosamente criaram um calendário perpétuo que manteria os feriados na estação aproximada para a qual foram originalmente concebidos.
O primeiro dia do mês lunar, chamado Rosh Chôdesh, era originalmente proclamado pela Suprema Corte em Jerusalém depois que a lua nova era visualmente avistada. Após a destruição de Jerusalém, Rosh Chôdesh era calculado pelo calendário astronômico e determinava em quais dias o feriado cairia.
A Torá designa determinados dias do mês como o início das Festas. Como as pessoas não podem lidar com meses de 29 ½ dias, alguns meses têm 29 e outros têm 30 dias. Os meses de 30 dias têm dois dias de Rosh Chôdesh, os de 29 dias têm apenas um.
Numa reprise da tradição antiga da proclamação da Lua Nova feita pela Corte, no Shabat anterior a Rosh Chôdesh, a chegada do novo mês é agora proclamada durante o serviço na sinagoga, repleta com um anúncio do segundo exato do início de Rosh Chôdesh. Os judeus celebram Rosh Chôdesh basicamente com preces acrescentadas ao serviço.
Uma maravilhosa tradição judaica registra que Rosh Chôdesh, a renovação do ciclo mensal, celebra a feminilidade. Não é apenas um brinde às mulheres e um lembrete da gratidão devida a elas, mas realmente um feriado no qual as mulheres não devem trabalhar.
Este tributo mensal foi iniciado como uma recompensa especial porque no Monte Sinai, ao contrário dos homens, as mulheres se recusaram a contribuir com suas joias para a confecção de um bezerro de ouro – a rematada demonstração feita pelos escravos recém-libertados da sua falta de fé em D’us e no Seu servo, Moshê.

As Semanas

Os judeus contam a semana de Shabat a Shabat. O Shabat é a coroa da semana; a coroa dos Dias Sagrados Judaicos; a coroa do Espírito Judaico; a coroa da imaginação judaica.
O Shabat é uma Rainha. É um prenúncio do próprio Mundo Vindouro. O Dia da Expiação, Yom Kipur, é o único dia mais sagrado que o Shabat semanal e sua extraordinária santidade lhe conferiu o título de “Shabat dos Shabatot”.
“Mais do que os judeus têm guardado o Shabat,” declarou certa vez um grande escritor, “o Shabat tem guardado os judeus.”
Este dia está tão enraizado na condição humana que, não importa quantas sociedades tenham tentado eliminá-lo, não conseguiram. Algumas simplesmente moveram o dia: os cristãos para o domingo, os muçulmanos para a sexta-feira. O Shabat carimba sua marca no indivíduo, na nação, na semana.
Todos os dias da semana levam ao Shabat. Na verdade, os dias não têm nomes, somente números, e estes números (yom rishon, yom sheni,...)todos olham para o número sete, antecipando a chegada do sétimo dia, o Shabat, Shabat.
Os dias de domingo a sexta-feira são considerados, psicológica e fisicamente, como degraus levando ao Shabat, o “palácio no tempo”. Roupas novas são usadas no Shabat; pratos especiais são preparados; convidados importantes são chamados a compartilhar a refeição; discussões significativas são adiadas para depois do Shabat.
A sexta-feira, devido à proximidade com o Shabat, praticamente perde a própria identidade; é simplesmente Erev Shabat, o limiar do Shabat, quando até os mais importantes eruditos auxiliam na cozinha.
Seguindo a analogia dos dias da semana como degraus levando ao dia sagrado, no encerramento do Shabat, o judeu vivencia uma rápida queda na empolgação – o Shabat vai embora, e a vida no nível mais baixo do primeiro dia da semana tem de começar novamente a escalada.

Os Dias

O dia judaico não começa e termina à meia-noite como no calendário secular. A meia-noite não é um evento astronômico reconhecível. Na era antes do relógio moderno, uma hora específica da noite não podia ser sabida com precisão, ao passo que uma hora do dia era facilmente determinada olhando-se a localização do sol. Assim, o dia começava por padrões precisos, simples e universalmente reconhecidos. Isso significava que o dia tinha de ser considerado ou a partir do início da noite ou no início do dia.
No tempo judaico, o dia começa com o início da noite (o surgimento das estrelas) seguido pela manhã (que tecnicamente começa com o aparecimento da Estrela do Norte). Segundo alguns mestres judeus, a noite e a manhã começam com o pôr-do-sol e o nascimento do sol, respectivamente. Pois é como a Torá o descreve: “E houve noite e houve manhã, o primeiro dia.”
Por este motivo, o Shabat começa na sexta-feira à noite e termina com o surgimento das estrelas no sábado à noite. O mesmo se aplica aos feriados importantes como Pêssach, Sucot, Shavuot, Rosh Hashaná e Yom Kipur, o dia de jejum de Tisha B’Av, além de Chanuca e Purim. Iniciar estes dias com as noites é, de certa forma, uma metáfora da própria vida. A vida começa na escuridão do útero, depois se lança para o brilho da luz e por fim se acomoda na escuridão do túmulo, que, por sua vez, é seguida por uma nova alvorada no Mundo Vindouro.
A vida consiste em luz e trevas: “E houve noite e houve manhã.”
O que conta é aquilo que fazemos com o tempo.

O Nasi

O Nasi

O Santuário portátil construído pelo povo de Israel no deserto do Sinai - conhecido como Mishcan, ou o "Tabernáculo" - foi inaugurado no primeiro dia do mês de Nissan do ano 2449 desde a criação. A partir desse dia e durante os próximos doze primeiros dias de Nissan, cada um dos líderes das Tribos - o "Nasi" - de Israel trazia uma oferenda inaugural representando sua tribo.
Costumamos celebrar a inauguração do Tabernáculo a cada ano, através da leitura, em cada um desses doze dias, de versos da Torá, que descrevem as ofertas de Nasi do dia. Estes versos são tradicionalmente lidos após Shacharit, Oração da Manhã, mas pode ser recitado a qualquer hora durante o dia.
A leitura é seguida de uma breve oração, na qual recitamos: "Que seja Tua vontade, meu D’us e D’us de meus pais ... que se eu, o teu servo, da tribo de [nome da Tribo a qual ele pertencia] cuja seção do Nasi tenho lido hoje em Tua Torá, possam todas as centelhas sagradas e luzes sagradas que estão imbuídas dentro da santidade desta tribo brilhar sobre mim, para me fornecer compreensão e inteligência em Tua Torá e temor por Ti, para cumprir com a Tua vontade todos os dias da minha vida."
No 13º dia de Nissan, lemos sobre todos os sacrifícios, e, em seguida, sobre o acendimento da Menorá do Tabernáculo - a contribuição da tribo sacerdotal de Levi (que não foi contado entre as Doze Tribos de Israel). O trecho "Que seja Tua vontade ..."não é recitado neste dia.

Por que o Shabat Anterior a Pêssach se Chama "O Grande Shabat"?

Por que o Shabat Anterior a Pêssach se Chama "O Grande Shabat"?

Existem muitas razões pelas quais se dá este nome. Aqui seguem algumas:
Milagrosamente, D’us salvou os judeus das mãos dos egípcios que queriam matá-los por ter usado seus deuses, os cordeiros, para sacrifícios. Como esse milagre aconteceu no Shabat antes de Pêssach, ficou sendo chamado de "Shabat Hagadol", o Grande Shabat, para recordar o milagre para sempre.
Nesse Shabat ocorreu outro acontecimento: Quando os egípcios viram que os judeus usavam cordeiros para seus sacrifícios de Pêssach, perguntaram: "Por que estão preparando estes cordeiros?" Os judeus replicaram: "Logo D’us trará ao Egito uma praga, que será a morte dos primogênitos, e Ele nos ordenou que oferecêssemos sacrifícios de Pêssach para que fôssemos poupados desta praga."
Quando os primogênitos egípcios escutaram isso, apresentaram-se a seus pais e ao faraó e exigiram: "Deixem os judeus partirem em liberdade. Não queremos perder a vida por causa de uma praga!" Os pais e o faraó se negaram, e por esta razão os primogênitos desembainharam suas espadas. Sobreveio uma batalha na qual muitos egípcios perderam a vida. Para recordar este fato, chamamos ao Shabat em que isso aconteceu Shabat Hagadol.
Shabat Hagadol também pode traduzir-se com o significado de "O Shabat dos grandes". Até agora, os judeus haviam sido como crianças pequenas, pois nunca haviam cumprido mitsvot. Nesse Shabat, porém, cumpriram sua primeira mitsvá: a preparação de um cordeiro para o corban Pêssach. Este foi o começo da observância das mitsvot e em um certo sentido, agora tornavam-se "grandes", como um menino no dia de seu bar-mitsvá.

Padre "destrói" Silas Malafaia